Notícias do Movimento Espírita

Araçatuba, SP, sábado, 30 de junho de 2012

Compiladas por Ismael Gobbo

Agradecemos àqueles que gentilmente repassam este email

 

 

 

Nota 1

Recomendamos confirmar junto aos organizadores os eventos aqui divulgados. Podem ocorrer cancelamentos ou mudanças que nem sempre chegam ao nosso conhecimento.

 

 

 

Nota 2

Este email é uma forma alternativa de divulgação de noticias, eventos, entrevistas e artigos espíritas. Recebemos as informações de fontes  diversas e fazemos o repasse aos destinatários de nossa lista de contatos. Trabalhamos com a expectativa de que as informações que nos chegam sejam absolutamente espíritas na forma como preconiza o codificador do Espiritismo, Allan Kardec.  Pedimos aos nossos diletos colaboradores que façam uma análise criteriosa e só nos remetam para divulgação matérias genuinamente espíritas. (Ismael Gobbo)

 

 

 

 

Atenção

 

Se você tiver dificuldades em abrir o arquivo, recebê-lo incompleto ou cortado e fotos que não abrem, clique aqui: http://www.noticiasespiritas.com.br/2012/JUNHO/30-06-2012.htm

 

 

 

 

Tributo para Francisco Cândido Xavier

Na data em completam-se dez anos de seu retorno à Pátria Espiritual

 

Querido Chico

Neste email de Noticias do Movimento Espírita amigos  te oferecem enternecido preito de reconhecimento e gratidão  por tudo aquilo que você fez e continua fazendo.  Não existem palavras, Chico, para exaltar convenientemente a grandiosidade da tua obra e dos teus  exemplos. Mas as nossas preces e os nossos sentimentos elevados  hão de transformar-se em  buquê de flores iluminadas que sua destra igualmente luminosa haverá de receber, oscular e conduzi-las de encontro ao coração sensível cuja grandeza somente Jesus, aquele que você nunca deixou de reverenciar, tem condições  para medir. Por tudo, Chico, a nossa gratidão umedecida pelas lágrimas da saudade. (Ismael Gobbo)

 

 

Veja também o email especial que encaminhamos por ocasião do Centenário de Nascimento de Chico Xavier aos 2 de abril de 2010.

Acesse aqui:

http://ismaelgobbo.blogspot.com.br/2010/04/este-email-especial-e-um-tributo-chico.html

 

 

 

 

Trechos da conferência alusiva a Chico Xavier por

Divaldo Pereira Franco no 3º. Congresso Espírita Brasileiro.  Brasília, DF

 

Acesse e continue a ler o email:

http://www.youtube.com/watch?v=ZmSY3BABEEA

http://www.youtube.com/watch?v=YDkr8EClxJ8

 

 

 

 

 

Francisco Cândido Xavier

 

Francisco Cândido Xavier

1910 - 2002

TRAÇOS BIOGRÁFICOS - NASCIMENTO - SUA INICIAÇÃO ESPÍRITA:

O maior e mais prolífico médium psicógrafo do mundo em todas as épocas nasceu em Pedro Leopoldo , modesta cidade de Minas Gerais, Brasil, em 2 de abril de 1910. Vive, desde 1959, em Uberaba, no mesmo Estado. Completou o curso primário, apenas. Pais: João Cândido Xavier e Maria João de Deus, desencarnados em 1960 e 1915, respectivamente. Infância difícil; foi caixeiro de armazém e modesto funcionário público, aposentado desde 1958. Em 7 de maio de 1927 participa de sua primeira reunião espírita. Até 1931 recebe muitas poesias e mensagens, várias das quais saíram a público, estampadas à revelia do médium em jornais e revistas, como de autoria de F. Xavier. Nesse mesmo ano, vê, pela primeira vez, o Espírito Emmanuel, seu inseparável mentor espiritual até hoje.

 

O MENINO CHICO

 

Desde os 4 anos de idade o menino Chico teve a sua vida assinalada por singulares manifestações. Seu pai chegou, inclusive, a crer que o seu verdadeiro filho havia sido trocado por outro... Aquele seu filho era estranho!... De formação católica, o garoto orava com extrema devoção, conforme lhe ensinara D. Maria João de Deus, a querida mãezinha, que o deixaria órfão aos 5 anos. Dentro de grandes conflitos e extremas dificuldades, o menino ia crescendo, sempre puro e sempre bom, incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência. As "sombras" amigas, porém, não o deixavam... Conversava com a mãezinha desencarnada, ouvia vozes confortadoras. Na escola, sentia a presença delas, auxiliando-o nas tarefas habituais. O certo é que os seus primeiros anos o marcaram profundamente; ele nunca os esqueceu... A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi em sua vida, conforme ele mesmo o diz, uma bênção indefinível.

 

Sim, a doença também viera precocemente fazer-lhe companhia. Primeiro os pulmões, quando trabalhava na tecelagem; depois os olhos; agora é a angina.

 

COMEÇO DO SEU MEDIUNATO :

 

Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) iniciou, publicamente, seu mandato mediúnico em 8 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo. Contando 17 anos de idade, recebeu as primeiras páginas mediúnicas. Em noite memorável, os Espíritos deram início a um dos trabalhos mais belos de toda a história da humanidade. Dezessete folhas de papel foram preenchidas, celeremente, versando sobre os deveres do espírita-cristão.


Depoimento de Chico Xavier: (...) "Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas, no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite. Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo, animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer."

 

EMMANUEL E DUAS ORIENTAÇÕES PARA O RESTO DA VIDA:

 

Emmanuel, nos primórdios da mediunidade de Chico Xavier, deu-lhe duas orientações básicas para o trabalho que deveria desempenhar. Fora de qualquer uma delas, tudo seria malogrado. Eis a primeira.

 

- "Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus?"

 

- Sim, se os bons espíritos não me abandonarem... -respondeu o médium.

 

- Não será você desamparado - disse-lhe Emmanuel - mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem.

 

- E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? - tornou o Chico.

 

- Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o Serviço... Porque o protetor se calasse o rapaz perguntou:

 

- Qual é o primeiro? A resposta veio firme:

 

- Disciplina.

 

- E o segundo?

 

- Disciplina.

 

- E o terceiro?

 

- Disciplina.

 

" A segunda mais importante orientação de Emmanuel para o médium é assim relembrada: - "Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.

 

Em 1932 publica a FEB seu primeiro livro, o famoso "Parnaso de Além-Túmulo"; hoje as obras que psicografou vão a mais de 400. Várias delas estão traduzidas e publicadas em castelhano, esperanto, francês, inglês, japonês, grego, etc.

 

De moral ilibada, realmente humilde e simples, Chico Xavier jamais auferiu vantagens, de qualquer espécie, da mediunidade. Sua vida privada e pública tem sido objeto de toda especulação possível, na informação falada, escrita e televisionada. Ápodos e críticas ferinas, têm-no colhido de miúdo, sabendo suportá-los com verdadeiro espírito cristão.

 

Viajou com o médium Waldo Vieira aos Estados Unidos e à Europa, onde visitaram a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha e Portugal, sempre a serviço da Doutrina Espírita.

 

Chico Xavier é hoje uma figura de projeção nacional e internacional, suas entrevistas despertam a atenção de milhares de pessoas, mesmo alheias ao Espiritismo; tem aparecido em programas de TV, respondendo a perguntas as mais diversas, orientando as respostas pelos postulados espíritas.

 

Já recebeu o título de Cidadão Honorário de várias cidades: Rio Preto, São Bernardo do Campo, Franca, Campinas, Santos, Catanduva, em São Paulo; Uberlândia, Araguari e Belo Horizonte, em Minas Gerais; Campos, no Estado do Rio de Janeiro, etc., etc.

 

Dos livros que psicografou já se venderam mais de 12 milhões de exemplares, só dos editados pela FEB, em número de 88. "Parnaso de Além-Túmulo", a primeira obra publicada em 1932, provocou (e comprovou) a questão da identificação das produções mediúnicas, pelo pronunciamento espontâneo dos críticos, tais como Humberto de Campos, ainda vivo na época, Agripino Grieco, severo crítico literário, de renome nacional, Zeferino Brasil, poeta gaúcho, Edmundo Lys, cronista, Garcia Júnior, etc. Prefaciando "Parnaso de Além-Túmulo", escreveu Manuel Quintão: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes.

 

É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'." Romances históricos formam a série Romana, de Emmanuel, composta de: "Há 2000 Anos...", "50 Anos Depois", "Ave, Cristo!", "Paulo e Estevão", provocando a elaboração do "Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel", de Roberto Macedo, estudo elucidativo dos eventos históricos citados nas obras. "Há 2000 Anos..." é o relato da encarnação de Emmanuel à época de Jesus. De Humberto de Campos (Espírito), aparece, em 1938, o profético e discutido "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma história de nossa pátria e dos fatos e ela ligados, em dimensão espiritual. A série André Luiz é reveladora, doutrinária e científica; com obras notáveis e a maioria completa, no tocante à vida depois da desencarnação, obras anteriores, de Swedenborg, A. Jackson Davis, Cahagnet, G. Vale Owen e outros.

 

Pertencem a essa série: "Nosso Lar", "Os Mensageiros", "Missionários da Luz", "Obreiros da Vida Eterna", "No Mundo Maior", "Agenda Cristã", "Libertação", "Entre a Terra e o Céu", "Nos Domínios da Mediunidade", "Ação e Reação", "Evolução em dois Mundos", "Mecanismos da Mediunidade", "Conduta Espírita", "Sexo e Destino", "Desobsessão", "E a Vida Continua...". De parceria com o médium Waldo Vieira, Chico Xavier psicografou 17 obras.

 

A extraordinária capacidade mediúnica de Chico Xavier está comprovada pela grande quantidade de autores espirituais, da mais elevada categoria, que por seu intermédio se manifestam. Vários de seus livros foram adaptados para encenação no palco e sob a forma de radionovelas e telenovelas. O dom mediúnico mais conhecido de Francisco Xavier é o psicográfico. Não é, todavia, o único. Tem ele, e as exercita constantemente, outras mediunidades, tais como: psicofonia, vidência, audiência, receitista, e outras.

 

Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares, e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro. Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas, e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não, e em livros dos quais podemos citar: o opúsculo intitulado "Pinga-Fogo, Entrevistas", obra publicada pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras; "Trinta Anos com Chico Xavier", de Clóvis Tavares; "No Mundo de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Lindos Casos de Chico Xavier", de Ramiro Gama; "40 Anos no Mundo da Mediunidade", de Roque Jacinto; "A Psicografia ante os Tribunais", de Miguel Timponi; "Amor e Sabedoria de Emmanuel", de Clóvis Tavares; "Presença de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Chico Xavier Pede Licença", de Irmão Saulo, pseudônimo de Herculano Pires; "Nosso Amigo Xavier", de Luciano Napoleão; "Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias" e "O Prisioneiro de Cristo", de R. A. Ranieri; "Chico Xavier - Mandato de Amor", da U.E.M.; "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, etc.

 

O CASO HUMBERTO DE CAMPOS:

 

Desencarnado em 1934 o festejado escritor brasileiro Humberto de Campos, o Espírito deste iniciou, em 1937, pela mediunidade de Chico Xavier, a transmissão de várias obras de crônicas e reportagens, todas editadas pela Federação Espírita Brasileira, entre as quais sobressai "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho". Eis senão quando, em 1944, a viúva de Humberto de Campos ingressa em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "é ou não do ‘Espírito' de Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, se apliquem as sanções previstas em Lei. O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo, ocupou espaço nos principais periódicos do País. Para que tenhamos uma idéia do que representou o referido processo na divulgação dos postulados espíritas, resumimos aqui alguns dos principais depoimentos da época extraídos da obra do Dr. Miguel Timponi, o principal advogado que trabalhou na defesa do médium e da FEB. Antes, porém, sintamos a beleza das palavras a seguir, enfeixadas no livro A Psicografia ante os Tribunais: "Entretanto, lá do Nordeste, desse Nordeste de encantamentos e de mistérios, a voz cheia de ternura e de emoção, de uma velhinha santificada pela dor e pelo sofrimento, D. Ana de Campos Veras, extremosa mãe do querido e popular escritor, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: 'Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão. Da crª. atª. Ana de Campos Veras Parnaíba, 21-5-38.' Conforme se vê da edição de 'O Globo' de 19 de julho de 1944, essa exma. senhora confirma que o estilo é do seu filho e assegura ao redator de 'O Povo' e 'Press Parga': "- Realmente - disse dona Ana Campos - li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho." Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro "A Psicografia ante os Tribunais". Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários quando encarnado. A Autora, D. Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal. Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa.

 

O AMOR DE CHICO XAVIER POR JESUS:

 

Depoimento de Chico Xavier: "(...) Deus nos permita a satisfação de continuar sempre trabalhando na Grande Causa d'Ele, Nosso Senhor e Mestre. Desde criança, a figura do Cristo me impressiona. Ao perder minha mãe, aos cinco janeiros de idade, conforme os próprios ensinamentos dela, acreditei n'Ele, na certeza de que Ele me sustentaria. Conduzido a uma casa estranha, na qual conheceria muitas dificuldades para continuar vivendo, lembrava-me d'Ele, na convicção de que Ele era um amigo poderoso e compassivo que me enviaria recursos de resistência e ao ver minha mãe desencarnada pela primeira vez, com o cérebro infantil sem qualquer conhecimento dos conflitos religiosos que dividem a Humanidade, pedi a ela me abençoasse segundo o nosso hábito em família e lembro-me perfeitamente de que perguntei a ela: - Mamãe, foi Jesus que mandou a senhora nos buscar? Ela sorriu e respondeu: - Foi sim, mas Jesus deseja que vocês, os meus filhos espalhados, ainda fiquem me esperando... Aceitei o que ela dizia, embora chorasse, porque a referência a Jesus me tranqüilizava. Quando meu pai se casou pela segunda vez e a minha segunda mãe mandou me buscar para junto dela, notando-lhe a bondade natural, indaguei: - Foi Jesus quem enviou a senhora para nos reunir? Ela me disse: - Chico, isso não sei... Mas minha fé era tamanha que respondi: - Foi Ele sim... Minha mãe, quando me aparece, sempre me fala que Ele mandaria alguém nos buscar para a nossa casa. E Jesus sempre esteve e está em minhas lembranças como um Protetor Poderoso e Bom, não desaparecido, não longe mas sempre perto, não indiferente aos nossos obstáculos humanos, e sim cada vez mais atuante e mais vivo." Não se pode negar o sentimento de veneração que envolve a nobre figura de Ismael, guia espiritual do Brasil. A responsabilidade que detém, na condição de mentor da Federação Espírita Brasileira suscita, da parte da comunidade espírita nacional, um profundo respeito, aliado a um imenso carinho e uma suave ternura. Certa vez, indagaram a Chico Xavier: - Como se processam os encontros, nas esferas resplandecentes da Espiritualidade, de Emmanuel com Ismael? Qual a postura do admirável Espírito do ex-senador romano, diante da também luminosa entidade a quem confiou Jesus os destinos do Brasil? Resposta do médium, curta, serena e firme: - De joelhos!

 

BREVES DEPOIMENTOS SOBRE O MÉDIUM CHICO XAVIER:

 

A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinqüenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier - e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre suas páginas -, é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito - 'Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho' - seguida de uma panorâmica da História universal - 'A Caminho da Luz' e de alguns manuais do maior valor: 'Emmanuel, Dissertações Mediúnicas', 'O Consolador', 'Roteiro', etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranqüilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho.

 

Francisco Thiesen Presidente da Federação Espírita Brasileira" (Fonte: "Revista Internacional de Espiritismo", número 6, Ano LII, julho de 1977.) "

 

"..Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico. Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo 'obras', refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de espíritos." "Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude senti-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens. Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai."

 

(Trechos da carta do Sr. Zêus Wantuil, 3° secretário da Federação Espírita Brasileira, à presidente da União Espírita Mineira) (Fonte: "O Espírita Mineiro", número 172, maio/julho de 1977.)

 

A PALAVRA DE CHICO XAVIER AO COMPLETAR QUARENTA ANOS DE MEDIUNIDADE:

 

"Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo, encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares, irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as mãos, os corações. Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos, procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol, fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco, pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente, esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros, agora cento e dois livros, lembro este quadro que nunca me saiu da memória, para declarar-vos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento, já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou.

 

(Fonte: "O Espírita Mineiro", número 137, abril/maio/junho de 1970.)

 

NA TAREFA MEDIÚNICA:

 

"Pergunta - Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais?

 

Resposta - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: 'Temos algo a realizar.' Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu: 'Trinta livros pra começar!' Considerei, então: como avaliar esta informação se somos uma família sem maiores recursos, além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda tanto dinheiro!... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei: será que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel respondeu: 'Nada, nada disso. A maior sorte grande é a do trabalho com a fé viva na Providência de Deus. Os livros chegarão através de caminhos inesperados!' Algum tempo depois, enviando as poesias de 'Parnaso de Além- Túmulo' para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grata surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros. Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: 'Agora, começaremos uma nova série de trinta volumes!' Em 1958, indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciência: 'Você perguntou, em Pedro Leopoldo , se a nossa tarefa estava completa e quero informar a você que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.' Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: 'Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência, do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.' Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: 'Sim, não temos outra alternativa!' Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: 'A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!' Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de 'Desígnios de Cima."

 

(Fonte: "O Espírita Mineiro", número 205, abril/junho de 1988.)

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos segmentos. Até a presente data, outubro de 1997, Francisco Cândido Xavier psicografou mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais, abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura infantil, etc.

 

Dias e noites têm sido por ele ofertados aos seus semelhantes, com sacrifício da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza. Hoje, nos abençoados 87 anos de sua vida corporal, as dificuldades físicas continuam trazendo-lhe problemas. Releva observar que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedece a uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação exclusiva e constante com a felicidade do próximo. Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto ao século XX, enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão, com milhares de mensagens psicografias que, em catadupas de paz e luz, amor e esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito Emmanuel.

 

NOTA DA FEB - No presente trabalho, foram consultadas e utilizadas as seguintes obras:

A Psicografia ante os Tribunais. / Miguel Timponi. / FEB - 5ª ed.,

Brasil, Mais Além! / Duílio Lena Bérni. / FEB - 5ª ed., 1994.

Chico Xavier - Mandato de Amor. / União Espírita Mineira, 1992.

Chico Xavier - Mediunidade e Coração. / Carlos A. Bacelli.

Instituto Divulgação Ed. André Luiz, 1985

Espiritismo Básico. / Pedro Franco Barbosa. / FEB - 4ª ed., 1995

 

A Desencarnação de Chico Xavier


A 30 de junho de 2002, por volta das 19h30, desencarnava em Uberaba o médium mineiro Francisco Cândido Xavier, em meio às vibrações de alegria do povo brasileiro pela conquista de mais um troféu mundial de futebol, como se o Plano Espiritual Superior quisera, propositadamente, diluir as repercussões que a partida do médium, por certo, viria causar em todos os segmentos da nossa sociedade. À medida que a notícia da desencarnação se espalhava pela cidade, centenas de pessoas se dirigiam para a casa do médium, de onde saiu o corpo, por volta das 23h, para ser velado no Grupo Espírita da Prece, ali permanecendo por cerca de 48 horas para receber as homenagens derradeiras do povo que ele tanto amou.

 

Durante todo o tempo em que ficou exposto em câmara ardente, filas quilométricas se faziam nas vizinhanças do Grupo Espírita da Prece, compostas por pessoas de todas as idades, sem distinção de raça e de condição social, professando os mais diferentes credos religiosos, numa espantosa demonstração de solidariedade e indisfarçado reconhecimento pelo grande obreiro que partia para o Além. O Governador Itamar Franco decretou luto oficial de três dias no Estado de Minas Gerais e fez-se representar no velório pelo Secretário de Indústria e Comércio, Marcelo Prado.

 

Uma hora antes de o corpo do médium deixar o Grupo Espírita da Prece, o Presidente da Federação Espírita Brasileira, Nestor João Masotti, a convite, proferiu uma prece, depois de falar brevemente acerca da vida e da obra de Francisco Cândido Xavier, seguida posteriormente por outras manifestações de apreço do Prefeito Municipal de Uberaba, Marcos Montes, e de autoridades presentes, além dos líderes da comunidade espírita local e de outras cidades e Estados, amigos e companheiros do médium.

 

Às 17h do dia 2 de julho, conduzidos pela viatura do Corpo de Bombeiros, os restos mortais do médium deixaram o Grupo Espírita da Prece, acompanhados por uma multidão incalculável, que seguia a pé e em silêncio, em direção ao Cemitério de São João Batista, em Uberaba, sem falar no sem-número de criaturas que, espremidas, se dispunham de ambos os lados das ruas por onde passava o cortejo. Em várias ocasiões, pétalas de rosas em grande profusão derramavam-se sobre o cortejo, lançadas por um helicóptero da Polícia Militar de Minas Gerais.

 

Cálculos das autoridades militares dão conta de que mais de cem mil pessoas compareceram ao sepultamento. No cemitério foram prestadas as honras militares de estilo, inclusive uma salva de 21 tiros de fuzil, a cargo do 4º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, cuja banda tocou as músicas Amigos para sempre e Nossa Senhora. Por volta das 19 horas, o corpo do médium baixou à tumba, após o que a multidão se dispersou, lenta e silenciosamente.

 

Fonte:Reformador julho/2002 - Edição especial

 

O Retorno do Apóstolo Chico Xavier

 

Quando mergulhou no corpo físico, para o ministério que deveria desenvolver, tudo eram expectativas e promessas.

 

Aquinhoado com incomum patrimônio de bênçãos, especialmente na área da mediunidade, Mensageiros da Luz prometeram inspirá-lo e ampará-lo durante todo o tempo em que se encontrasse na trajetória física, advertindo-o dos perigos da travessia no mar encapelado das paixões bem como das lutas que deveria travar para alcançar o porto de segurança.

 

Orfandade, perseguições rudes na infância, solidão e amargura estabeleceram o cerco que lhe poderia ter dificultado o avanço, porém, as providências superiores auxiliaram-no a vencer esses desafios mais rudes e a crescer interiormente no rumo do objetivo de iluminação.

 

Adversários do ontem que se haviam reencarnado também, crivaram-no de aflições e de crueldade durante toda a existência orgânica, mas ele conseguiu amá-los, jamais devolvendo as mesmas farpas, os espículos e o mal que lhe dirigiam.

 

Experimentou abandono e descrédito, necessidades de toda ordem, tentações incontáveis que lhe rondaram os passos ameaçando-lhe a integridade moral, mas não cedeu ao dinheiro, ao sexo, às projeções enganosas da sociedade, nem aos sentimentos vis.

 

Sempre se manteve em clima de harmonia, sintonizado com as Fontes Geradoras da Vida, de onde hauria coragem e forças para não desfalecer.

 

Trabalhando infatigavelmente, alargou o campo da solidariedade, e acendendo o archote da fé racional que distendia através dos incomuns testemunhos mediúnicos, iluminou vidas que se tornaram faróis e amparo para outras tantas existências.

 

Nunca se exaltou e jamais se entregou ao desânimo, nem mesmo quando sob o metralhar de perversas acusações, permanecendo fiel ao dever, sem apresentar defesas pessoais, ou justificativas para os seus atos.

 

Lentamente, pelo exemplo, pela probidade e pelo esforço de herói cristão, sensibilizou o povo e os seus líderes, que passaram a amá-lo, tornou-se parâmetro do comportamento, transformando-se em pessoa de referências para as informações seguras sobre o Mundo Espiritual e os fenômenos da mediunidade.

 

Sua palavra doce e ungida de bondade sempre soava ensinando, direcionando e encaminhando as pessoas que o buscavam para a senda do Bem.

 

Em contínuo contato com o seu Anjo tutelar, nunca o decepcionou, extraviando-se na estrada do dever, mantendo disciplina e fidelidade ao compromisso assumido.

 

Abandonado por uns e por outros, afetos e amigos, conhecidos ou não, jamais deixou de realizar o seu compromisso para com a Vida, nunca desertando das suas tarefas.

 

As enfermidades minaram-lhe as energias, mas ele as renovava através da oração e do exercício intérmino da caridade.

 

A claridade dos olhos diminuiu até quase apagar-se, no entanto a visão interior tornou-se mais poderosa para penetrar nos arcanos da Espiritualidade.

 

Nunca se escusou a ajudar, mas nunca deu trabalho a ninguém.

 

Seus silêncios homéricos falaram mais alto do que as discussões perturbadoras e os debates insensatos que acontecia à sua volta e longe dele, sobre a Doutrina que esposava e os seus sublimes ensinamentos.

 

Tornou-se a maior antena parapsíquica do seu tempo, conseguindo viajar fora do corpo, quando parcialmetne desdobrado pelo sono natural, assim como penetrar em mentes e corações para melhor ajudá-los, tanto quanto tornando-se maleável aos Espíritos que o utilizaram por quase setenta e cinco anos de devotamento e de renúncia na mediunidade luminosa.

 

Por isso mesmo, o seu foi mediumato incomparável.

 

...E ao desencarnar, suave e docemente, permitindo que o corpo se aquietasse, ascendeu nos rumos do Infinito, sendo recebido por Jesus, que o acolheu com a Sua Bondade, asseverando-lhe:

 

- Descansa, por um pouco, meu filho, a fim de esqueceres as tristezas da Terra e desfrutares das inefáveis alegrias do reino dos Céus.

 

Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 2 de julho de 2002, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

 

 

(Copiado do site FEPARANA  http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=59)  

 

 

 

Almir Del Prette (São Carlos, SP)

 

Olhando o Chico de longe

 

O indivíduo humano parece ter, em geral, certa curiosidade saudável de conhecer o seu semelhante. Observando o outro, identificamos e reconhecemos a nós mesmos. Eu e o outro, nós e os outros são chaves importantes na compreensão do ser e de outras questões filosóficas como destino, dor, felicidade etc. Tentamos descobrir em nós, olhando o outro, traços da universalidade do ser como, por exemplo, as emoções. Por outro lado, aqueles que fogem à regra comum do funcionamento humano, realizando obras extraordinárias nos diferentes campos de atividade recebem uma atenção redobrada de todos. Modernamente, dá-se o nome a essa característica de chamar a atenção de famosidade. A fama parece exercer na atualidade uma grande atração a ponto de levar indivíduos comuns a se comportarem de forma idiossincrática para, a todo custo, chamar a atenção sobre si.

A mediunidade embora cada vez mais comum, em seu estado mais avançado ainda é um fenômeno raro, especialmente quando o médium associa a ela as principais virtudes cristãs.  É natural então que os olhares se voltem para os médiuns extraordinários que, em razão da capacidade altamente desenvolvida, ganham notoriedade. A fama em todas as áreas da sociedade é, por si mesma, um peso enorme. Imaginem então, para aqueles que ganham prestígio fazendo o bem. Alguns médiuns se tornam conhecidos e logo caem no ostracismo. Poucos, como Francisco Cândido Xavier, permanecem por décadas carregando o pesado fardo da fama. Francisco Cândido Xavier, conhecido simplesmente por Chico foi estudado, observado, investigado em vários facetas de sua vida como, por exemplo, a veracidade das mensagens mediúnicas que recebia, a rotina de trabalho, a vida familiar, as idéias e posição sobre o país.

Em todas as fases de sua vida, desde a adolescência, Chico atraiu, mesmo não desejando, muita atenção sobre si. Não obstante ser visitado por artistas famosos, políticos expressivos, cientistas de renome, Chico jamais deixou suas atividades junto às pessoas simples que diariamente o procuravam. O número de caravanas de espíritas que rumavam para Uberaba, proveniente de diversos pontos do país, sempre foi muito grande, parecendo aumentar no período final de sua existência

Foi nessa época que recebi o convite para fazer parte de uma dessas caravanas. A idéia era de se aproximar do Chico, vê-lo, cumprimentá-lo talvez. O argumento de convencimento que um amigo utilizou foi que essa seria “a nossa única oportunidade no estágio em que nos encontrávamos de ver, de perto, alguem tão evoluído”. Agradeci ao convite ponderando comigo mesmo que não era justo visitá-lo, que mesmo sendo tão evoluído ele, certamente, precisava de um mínimo de sossego. Não obstante a presença de amigos encarnados e desencarnados que o protegiam as leis biológicas atuavam e precisavam ser respeitadas.

Chico até o fim lidou com humildade e sabedora com a fama e quanto a mim continuo o mesmo cara atrasado, observando o Chico de longe, literalmente de longe...

 

O jovem Chico Xavier pesando mercadorias no armazém

 do padrinho José Felizardo. Pedro Leopoldo, MG

Foto do livro Notáveis Reportagens com Chico Xavier, IDE, Araras, SP

 

 

 

Antônio César Perri de Carvalho (*) (Brasília, DF)

 

Homenagem a Chico Xavier

 

 

No dia 30 de junho transcorrem 10 anos da desencarnação de Chico Xavier.  É inquestionável que para os espíritas o importante não é se valorizar homenagens póstumas e túmulos. Destaca-se o exemplo de vida, a obra e homenageia-se o espírito imortal. Como anotamos em artigo recente: “Todos os que conheceram e privaram da amizade com o médium, entendem que hoje ele estaria próximo de todos os que desinteressadamente atuam na sementeira do amor, do bem e da paz. Parece-nos oportuna a manifestação de Chico Xavier, quando completou 50 anos de labores mediúnicos, ao humildemente declarar a um jornal espírita: Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso..."(*)

Já em Julho, neste ano, assinalamos fatos extremamente significativos para a história da literatura espírita. O então jovem médium Francisco Cândido Xavier, na interiorana cidade de Pedro Leopoldo (MG) deu início à mediunidade de psicografia no dia 8 de julho de 1927 e participava da fundação do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Ainda numa etapa inicial do seu labor psicográfico, surgem dois livros portentosos, lançados pela Federação Espírita Brasileira, respectivamente, nos meses de julho de 1932 e de 1942: Parnaso de Além Túmulo – sua primeira obra -, e, Paulo e Estevão –  sua obra prima. Em nossos dias, as duas obras mantém elevado interesse por parte dos leitores.

A efeméride dos 70 anos de lançamento de Paulo e Estevão está sendo assinalada pela FEB com o lançamento de edição especial da obra e a realização, nas várias regiões do país, do seminário "Os trabalhadores espíritas e os primeiros cristãos, à luz da obra Paulo e Estêvão".

Este romance histórico recompõe episódios do Cristianismo primitivo, destacando a difusão dos ensinos do Cristo. Esses exemplos são de fundamental importância como fonte de inspirações para o Movimento Espírita da atualidade e, sem dúvida, a forma edificante para se homenagear o espírito Chico Xavier.

(*) – Vide Reformador, edição de junho, e on line: Portal FEB:

 

http://www.febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=301

 

 

* Vice-presidente da Federação Espírita Brasileira e membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional

 

 

 

Anuário Espírita

 

Trecho de entrevista com Chico Xavier na TV em Goiânia

 

REALIZADA POR DR. DELFINO DA COSTA MACHADO

COM CHICO XAVIER PUBLICADA NO ANUÁRIO ESPÍRITA 1972

DAS PÁGINAS 80 A 91.

O TRECHO REPRODUZIDO ESTÁ ÀS FLS 88 A 91

 

 

 

 

 

 

 

 

Blue Light Circle, Surbiton, Inglaterra

 

Mensagem para Chico Xavier

 

Chico Xavier, this remarkable man has managed to inspire many people, including
the members of our
Blue Light Circle.
His exceptional mediumship has helped us to understand the true meaning of our existence. 
His books have conveyed to us with wisdom this fundamental truth and
have enriched our own paths towards enlightenment. 

What a wonderful legacy Chico Xavier has left to your fellow man!

from the Blue Light Circle, Surbiton, England.

Chico Xavier, homem admirável que conseguiu inspirar inúmeras pessoas, inclusive
aqueles que fazem parte do nosso Blue Light Circle.

Com a sua mediunidade excepcional  nos ajudou a entender o verdadeiro motivo da nossa existência. 
Seus livros nos tem transmitido com grande sabedoria esta verdade fundamental e
tem enriquecido nossos caminhos para a o desenvolvimento espiritual.

Que herança maravilhosa Chico Xavier deixou para seus irmãos!
do Blue Light Circle, Surbiton, Inglaterra. 

 

Exposição de homenagens recebidas por Chico Xavier na

casa onde residiu na cidade de Uberaba, MG

Foto Luiz Carlos de Souza

 

 

 

Elsa Rossi (Londres, Reino Unido)

 

Nosso Chico, estrela de luz em minha vida

 

Lia seus livros psicografados. O admirava muito, mas não havia ainda criado a oportunidade de ir até Uberaba. Áureos tempos, juventude, filhos pequenos, Casa Espírita, leitura das obras que norteiam nossas vidas, lição a cada página da coleção Andre Luiz, viver a história nos romances reais de Emmanuel, sensibilizar almas com as mensagens de luz em cada página que nos oferece nosso Chico. 

 

Sei que ele, nosso Chico continua presente, está aqui ao meu ladinho, sentindo suas vibrações de luz em minhas preces junto ao meu trabalho na divulgação da Doutrina Espírita.

 

Chico querido. Não tenho palavras para agradecer o toque de suas santas mãos sobre as minhas, o seu ósculo que permanece em minhas mãos, o momento que pude beijar as suas, e as suas palavras que permanecerão em meus sentidos da audição eternamente. Foram as suas palavras que nortearam minha vida desde 1997, na força que tive para mudar para a Londres, quando ao visitá-lo você me disse: "De um abraço em minha amiga Janet Duncan da  Inglaterra ". Segui seus conselhos, e hoje me encontro a frente de um trabalho de luz, junto a BUSS e ao Conselho Espírita Internacional, por sua força de paz interior que eu, na minha pequenez  pude captar e seguir...

 

Deus lhe pague em luz em sua escala evolutiva, amado Chico. Obrigada por ainda permanecer entre nós, estrela de imensa grandeza, junto aos pequenos que ainda precisam de você.

 

Com imensa gratidão e amor, sempre

sua filha elsa rossi

 

Elsa Rossi e Francisco Cândido Xavier.

Grupo Espírita da Prece, Uberaba, MG

 

 

 

 

Geraldo Lemos Neto (Belo Horizonte, MG)

 

Amigo Chico Xavier

 

Conheci Chico Xavier em 14 de outubro de 1981 num evento de lançamento de dois de seus livros em São Paulo. Desde criança ouvia casos a seu respeito contados por familiares meus que haviam convivido com ele desde a sua infância em Pedro Leopoldo (MG), sua cidade natal. Os relatos sempre foram permeados pela descrição de sua generosidade, seu desprendimento com as coisas materiais, seu amor ao próximo a recordar-nos a figura inolvidável do Cristo. Desde então passei a acompanhá-lo, desenvolvendo com ele grande amizade em convivência na cidade de Uberaba, quando o visitava regularmente e em Belo Horizonte quando tive a alegria de hospedá-lo. A partir de 1984, passei a colaborar com ele na edição de livros de sua psicografia, tornando-me, por influência dele, editor.

Chico possuía recursos mediúnicos múltiplos, embora ficasse conhecido mais pela psicografia. Presenciei fenômenos de efeitos físicos, odoríficos, de materialização, de psicometria, de presciência, de leitura de pensamentos, de vidência, de clariaudiência, de desdobramentos espirituais, em inúmeros casos extraordinários que por si só já o classificariam no rol das pessoas muito especiais. Guardo a certeza de que ele era cercado de falanges espirituais tão elevadas que nossa compreensão está longe ainda de perceber, colaborando ativamente na construção do mundo melhor do porvir.

Desde muito jovem Chico assombrou o mundo, escrevendo mediunicamente centenas de livros (já são 466 publicados),  convertendo-se em intransigente defensor e divulgador do Evangelho de Jesus sob a ótica da Doutrina Espírita. Viveu 92 anos de renúncias e abnegações, 75 dos quais dedicado à mediunidade cristã. Desencarnado há 10 anos, não terá substitutos. À semelhança de Jesus, Chico Xavier é único no planeta Terra. É um dos pioneiros do progresso espiritual do homem imortal, um batalhador da Luz, um grande e incansável desbravador da Espiritualidade.

Sua humildade característica nunca o situou em palcos de atuação brilhante nem em holofotes dos estrelismos mundanos porque fazia questão de se fazer um ser humano qualquer, rebaixando-se para se apagar, humanizando-se à nossa volta e fazendo-nos sentir à vontade. Suas lições vinham sempre de forma indireta, um caso que contava despretenciosamente, um apontamento outro que se ajustava à nossa necessidade, sem nunca nos apontar o dedo acusatório ou a reprimenda do julgamento.

Sua vida transcendeu as barreiras da religião, alcançando uma quase unanimidade em respeito e reconhecimento justos. Decorridas as comemorações de seu centenário de nascimento em 2010 e agora chegados aos 10 anos de sua partida para a Vida Maior, continua sendo lembrado como símbolo do homem renovado do futuro que haverá de transformar a vida na face da Terra para a paz, a fraternidade, a justiça e o amor.

Geraldo Lemos Neto

Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo

Fundação Cultural Chico Xavier de Pedro Leopoldo

Vinha de Luz Editora

 

Geraldo Lemos Neto em dois momentos com Chico Xavier. Fotos do arquivo de Geraldo Lemos Neto

 

 

 

Gloria Collaroy (Sydney, Austrália)

 

Minha mensagem de gratidão a Chico Xavier

 

Chico Xavier, gostaria de poder escrever uma linda mensagem em sua homenagem, mas a que grafo  neste momento, ainda que singela,  é saída do imo de minh’Alma  que está vertendo as  lágrimas da saudade.
Você foi meu professor, Chico, apontando-me pela sua vivência,  o caminho de como conquistar a  humildade, a  bondade, a simplicidade e o amor incondicional ao próximo. É o  meu ídolo e sempre será, ao lado do Mestre Jesus,  os meus guias na busca dessa tão sonhada felicidade.
Gostaria de poder beijar-lhe as mãos, acariciar seus dedos, e declamar em pensamentos todas aquelas mensagens de amor,  de encorajamento e de incentivo contidas em seus livros que  foram e serão os raios de luz para acalentar  e  iluminar  cada uma das auroras de minha vida.
Eu lhe amo, Chico,  mas sei que existem outros tantos milhões de almas que também o amam com igual ternura.
Agradeço a Deus ter vindo ao mundo e ter podido compartilhar de sua presença entre nós.
Receba,  meu querido, os meus mais profundos sentimentos de amor e carinho, com a  certeza de que você está ai na pátria espiritual, desfrutando da paz e da alegria prometida por Jesus, na posse do tesouro celeste que a traça e a ferrugem não consomem e os ladrões jamais conseguirão  roubar.

Gloria Collaroy e todos os Franciscanos de Sydney

 

 

Francisco Cândido Xavier ladeado pelo repórter de O Globo, Clementino de Alencar

e seu irmão José Xavier. No ano de 1935 O Globo publicou dezenas de reportagens  tirando

Chico do anonimato. Foto contida no livro Notáveis Reportagens com Chico Xavier, editada pelo IDE, Araras, SP

 

 

 

Isabel Porras González (Málaga, Espanha)

 

Palavras saídas do corazon para Chico Xavier

 

"Amado Chico Xavier, não pude te conhecer em pessoa embora estava muito próxima de ti, no Brasil. Agradeço a Deus por deixar cair uma estrela na Terra, o dia 2 de abril de 1910. Uma estrela de humildade, caridade e amor. Estou muito agradecida por tudo o que nos destes  em tantos anos de trabalho. Deus te abençoe ai na pátria espiritual onde você vitorioso regressou há exatos dez anos."

 

 

Aparelho usado por Chico Xavier para gravar as mensagens que deram origem aos livros:

Instruções Psicofônicas e Vozes do Grande Além.  Do acervo organizado pelo historiador Geraldo Leão e exposto

 no Memorial Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, MG.    Foto Ismael Gobbo

 

 

 

Ismael Gobbo (Araçatuba, SP)

 

Entrevista com Dona Cidália Xavier Carvalho *, irmã de Chico Xavier

 

PUBLICADA NA FOLHA ESPIRITA

SÃO PAULO, EDIÇÃO FEV. 2009.

 

No mês passado, completou-se 50 anos da mudança de Francisco Cândido Xavier da cidade de Pedro Leopoldo para Uberaba (1), ambas no grande e acolhedor Estado de Minas Gerais. A Folha Espírita foi a Pedro Leopoldo, cidade onde Chico Xavier nasceu,  em 2 de abril de 1910,  e na qual daria inicio à gloriosa caminhada que o converteria numa das maiores expressões do Movimento Espírita brasileiro e mundial. Uma das alegrias foi poder ver e ouvir dona Cidália Xavier Carvalho, irmã de Chico, que, com muita emoção, lucidez e alegria incontida,  relembrou os dias venturosos do  grande missionário na famosa cidade mineira. No jardim florido que Chico tanto gostava, ela se deixou fotografar ao lado da bela rosa que carinhosamente lhe ofertou. 

 

 

FE. Primeiramente,  agradecemos pela oportunidade de nos conceder esta entrevista...

Cidália Xavier Carvalho - “Eu confiei muito no senhor. Às vezes as pessoas me acham estranha por não aparecer, ser meio retraída, não gostar de falar. Embora alguns possam pensar que não ligo para as coisas de Chico, na realidade  acredito que tenha sido e  sou uma das que mais se preocupam. Fui uma pessoa que estava doente e encontrei um Chico Xavier para me ajudar”.

 

FE. Como é composta a sua família?

Cidália - “Fui casada com Francisco Teixeira Carvalho, o “Chiquinho”,    do qual sou viúva. Tivemos os filhos William, já desencarnado, e  Mary Rose que também é viúva e  mora comigo. Do William tenho um neto,  que mora na Austrália”.

 

FE. A senhora se emociona muito ao falar do esposo?

Cidália -  “Chiquinho foi um marido maravilhoso. Era muito bom e inteligente. Engraçado que ele era católico, não perdia uma missa  e acabou se tornando um bom  espírita. O Chico gostava demais do meu marido. Eles trocavam muitas idéias. Quando Chico  era convidado para ir à casa de alguém, sempre levava o Chiquinho de companhia”.

 

FE. E  a  família Xavier?

Cidália - “Papai, João Cândido Xavier, que  se casou com Cidália, minha mãe,  já tinha nove filhos do primeiro casamento, com dona Maria João de Deus, entre eles o Chico. Mamãe teve seis filhos: André, o mais velho, depois, Lucília, Neuza, eu, Dóris (Doralice) e João,  o caçula. Vivos somos eu e o André, que mora em São Paulo.  Mamãe era um sonho. O Chico,  que tinha apanhado muito depois da morte da sua mãe, encontrou nela o carinho que precisava. A história é bonita.  Ficamos sabendo que, logo depois do casamento com papai,  mamãe colocou um banco e enfileirou todas as canequinhas para servir o café e o bolo  para  cada um dos filhos que recebia com todo amor e carinho.  Ela era muito calma, muito meiga. Papai já tinha um temperamento meio nervoso, principalmente em relação ao Chico,  porque ele ficava até tarde nos trabalhos de psicografia e de atendimento. Era quando ele falava: “Esse povo não dá sossego pro Chico. Será que não vê que ele precisa dormir para acordar cedo e ir  trabalhar?”.   

 

FE. João freqüentava os trabalhos espíritas?

Cidália - “Ele não freqüentava, mas o filhos todos iam ao centro espírita. José, que dos homens era o mais velho e muito alegre,   foi o braço direito de Chico Xavier. Quando ele desencarnou o Chico ficou  numa tristeza  enorme porque sempre trabalharam juntos”.

 

FE. Como era o Chico no dia-a-dia?

Cidália - “Ele era maravilhoso, brincalhão, trabalhador, lindo. Não era vaidoso,  mas sempre gostava de andar bem arrumado. Tinha um paletó xadrez que amava! Nunca me esqueço que à noite,  quando a gente se preparava para dormir,  ele marcava um horário para ser chamado de manhã porque tinha de ir para o serviço. E assim a gente fazia. Se era para chamar às 7 horas,  a gente o chamava pontualmente. Ai ele dava uma acordadinha e falava para nós: “Me dá mais cinco minutinhos? ”. Passados os cinco minutos a gente o acordava de novo e ai não tinha jeito.  “Já passáramos  cinco minutos, então vou levantar”, dizia”. 

 

FE. Chico assumiu muitos encargos com a morte de dona Cidália, sua mãe?

Cidália - “O Chico foi,  ao mesmo tempo,  irmão, pai e mãe. Com a morte de mamãe (2)  ele assumiu muitas responsabilidades e, embora moço,  soube distribuir atenção e zelar por todos nós.  Lembro-me que eu trabalhava com minha irmã Neuza na fábrica  até meia noite,  e ele ficava nos esperando enquanto fazia as suas  psicografias. Quando a gente chegava,  ele parava de psicografar e nos perguntava como tinha sido o dia de trabalho, se tudo tinha corrido bem, queria saber das novidades, das pessoas. Às vezes,  a gente falava que fulano estava gostando de cicrana, que outro estava  namorando beltrana. Ele ficava contente e dizia: “É verdade?. Que coisa boa!”.   No meu caso, lembro-me que ele  dava os conselhos: “Olha, Dália, você precisa encontrar um moço bom, mais velho que você, que seja responsável e que lhe faça feliz”. Ao conhecer o Chiquinho, que era chefe na fábrica,  fui falar com ele e disse: “Acho que estou gostando do Chiquinho, ele parece ser muito bom,  mas estou achando-o meio idoso, mais velho que eu.” E  Chico respondeu:  “Ah, esse vai ser muito bom para você!”.  E realmente foi.”

 

FE. Do que o Chico mais gostava?

Cidália -  “As pessoas as vezes pensam que o Chico era tão diferente dos outros...  Ele era uma pessoa normal. Chico gostava de cinema, de televisão, de teatro e muito de música. Achava interessante o povo sair para as ruas cantando em serenatas”. 

 

FE. Na música,  o que ele apreciava?

Cidália - “Ele gostava demais de musicas clássicas. O Geraldo Leão, nosso grande amigo aqui de Pedro Leopoldo,  fez muitas fitas para ele. Uma do Waldo de Los Rios,  o Chico gostou demais. Era muito linda,  ele tinha mesmo razão.  Mas o Chico gostava dos cantores também. Amava ouvir Roberto Carlos,  Vanusa e muitos outros. Quando Elis Regina morreu,  ele ficou arrasado.  Uma música que o marcou muito  foi  Hi-Lilli Hi-Lo (3). Eu tenho tantas coisas dele que em um dia, dois dias... não dá pra contar...”  

 

FE O Chico continua recebendo muitas homenagens...

Cidália -  “Fizeram um memorial na região do Açude através da Câmara e da Prefeitura quando era prefeito o sr.  Ademir Gonçalves (4). Mas o povo quebrou tudo. Deus permita que as homenagens alegrem o Chico. Ele era uma pessoa muito simples e humilde. A gente precisa se fazer uma pergunta quando vai fazer alguma coisa para ele: será que o Chico ficará contente? Será que isso o deixa alegre?. Temos de fazer as coisas pensando em dar alegrias para ele”

 

FE  Nste ano, em abril,  teremos aqui,  em Pedro Leopoldo, novo Encontro dos Amigos de Chico Xavier.

Cidália - “Deus permita que isso aconteça. Temos o interesse do Geraldinho que é uma pessoa muito especial. Ele  é o nosso sucesso. Apesar de não ter tido muito contato com ele,  digo que é uma pessoa maravilhosa. O Chico dedicava a ele a  maior consideração.  Se a minha saúde estiver boa,  irei ao encontro para retribuir aos amigos as alegrias que proporcionam ao Chico”.

 

FE. Uma mensagem para os Espíritas.

Cidália “Quem sou eu para dar mensagem aos espíritas... Diria apenas que fico muito feliz por amarem o Chico da forma como amam,  dentro dos princípios da Doutrina Espírita”.

 

 

* Dona Cidália é a única dos irmãos de Chico Xavier encarnada. Reside em Pedro Leopoldo, MG

 

Dona Cidália Xavier Carvalho em sua casa em Pedro Leopoldo e o cartão que Chico Xavier lhe

enviou no dia 4 de maio de 1981, assinalando os 50 anos da partida da mãe Cidália Batista,

ocorrida no dia 19 de abril de 1931. Foto e reprodução Ismael Gobbo

 

 

 

Jacky Sewell (Sydney, Austrália)

 

Chico Xavier - Um homem chamado Amor

 

"Quando vejo qualquer coisa sobre o Tio Chico, logo imagino que Deus foi muito generoso com  as nossas gerações por enviar uma alma com tanta bondade, coragem e determinação para viver uma vida de resignação, renúncia, humildade, mas,  acima de tudo,  o amor ao próximo. Ver ou ouvir o Chico hoje me enche os olhos de lágrimas e então me ponho a pensar: quando será "Senhor" que outra alma como essa virá à Terra para nos confortar o coração e nos ensinar a acreditar que amar sem nada esperar é bonito e que um mundo melhor nos espera quando deixamos de esperar e trabalhamos para isso...

Ah,  Tio Chico, eu era só uma criança de 7 anos, mas nunca me esqueço, quando um dia ao te ver na TV, perguntei a minha avo, católica ferrenha: Vó quem é esse homem?. E ela me disse: " Um homem de bem minha filha...um homem do bem" !!

Obrigado Tio Chico por ter sido simplesmente você! Te amamos!"

 

Imagem de Chico Xavier no programa Pinga-Fogo, na TV Tupi, SP, em 1971

Fonte: http://video.google.com/videoplay?docid=1832677517507007078#

 

 

 

Jhon Harley Madureira Marques (Pedro Leopoldo, MG)

 

Os muitos “porquês” da saída de Chico Xavier de Pedro Leopoldo

 

“Sair de Pedro Leopoldo, para mim foi muito difícil... Espiritualmente, sempre estive vinculado ao ‘Luiz Gonzaga’. A vida de médium é complicada... Encontrei em Uberaba muitos amigos generosos – amo esta cidade, mas, falando sinceramente, em Pedro Leopoldo vivi os meus melhores dias... A coisa foi ficando difícil; o cerco dos inimigos da Doutrina foi se apertando. Mas está tudo certo. Jesus não podia se demorar por muito tempo numa cidade – logo, as Trevas davam um jeito de colocar as autoridades contra ele... Ele pregou o Evangelho em fuga! Jesus passou os três anos de sua peregrinação sob o constante assédio das Trevas... Houve uma época em que cheguei a pensar em sair de Uberaba; amigos me convidavam para morar em São Paulo, outros queriam que eu fosse para o Rio... Emmanuel me disse: - Chico, para onde você for, a dificuldade irá atrás... Então, ‘aguentei a barra’ e não me arrependo de estar em Uberaba até hoje. Esta cidade é maravilhosa! Com o passar do tempo, descobri que Pedro Leopoldo e Uberaba são duas cidades irmãs – Pedro Leopoldo é minha mãe; Uberaba é como se fosse minha tia, mas uma tia muito querida!...”. (Chico Xavier)

 

No início da década de 80, quando o Chico vinha frequentemente visitar os seus familiares em Pedro Leopoldo, em um encontro que tivemos em sua residência, nos fundos da casa de sua irmã Maria Luiza Xavier, ele disse claramente que, em princípio, não deveríamos sair da cidade onde nascemos. E completou dizendo que no seu caso não foi possível permanecer em sua cidade natal por razões que, na época, não chegou a descrever claramente.

Confesso que a partir desta recomendação procurei organizar minha vida pessoal e profissional em Pedro Leopoldo ou próximo a minha cidade, como por exemplo, Belo Horizonte. Do ponto de vista profissional cheguei até a recusar alguns convites fora do estado, pois entendia que um aconselhamento partindo de Chico Xavier tinha o peso de uma determinação.

Digo isto para que possamos entender a complexidade de uma decisão tomada por Chico Xavier ao sair de sua terra natal. Até hoje muitos espiritistas vêm procurando encontrar uma razão que justifique a saída de Chico Xavier de Pedro Leopoldo para a cidade de Uberaba. Entretanto, creio que não exista uma única razão, mas diferentes razões que somadas culminaram na saída de Chico Xavier no dia 04 de janeiro de 1959.

Oficialmente, o próprio Chico Xavier falava de uma labirintite crônica decorrente do clima frio na cidade:

 

“Em princípios de 1958, comecei a sofrer de uma labirintite que me incomodava bastante. Muito barulho nos ouvidos, muitas dores de cabeça. Bezerra de Menezes, o nosso benfeitor espiritual, tratou-me com a dedicação que lhe conhecemos e pediu, ainda, em meu caso, a consideração de um especialista, tendo eu recorrido ao Dr. Costa Chiabi, distinto otorrinolaringologista em Belo Horizonte. Dr. Costa Chiabi dispensou-me grande atenção. Mediquei-me. Fui a Angra dos Reis, no Estado do Rio, por duas vezes, buscando mudança de clima e refazimento na praia. Melhorei, mas não positivamente como precisava. Em face das recidivas, nossos Amigos Espirituais aconselharam minha transferência para clima temperado, já que Pedro Leopoldo é bastante fria na maior parte do ano. Chegado o assunto a esse ponto, nosso amigo Waldo Vieira convidou-me a experimentar Uberaba. Vim para cá e, graças a Deus, me refiz.” (No mundo de Chico Xavier, páginas 132 e 133) 

 

Em 1958, não podemos também deixar de registrar que Chico Xavier passou por um grande constrangimento. O seu sobrinho Amaury Pena, filho de Maria da Conceição Xavier Pena, a irmã que conduzira Chico Xavier involuntariamente ao Espiritismo, também médium, residente da cidade mineira de Sabará, atacou-o publicamente passando a divulgar na imprensa acusações gravíssimas dizendo ser o seu tio um grande mistificador.

E declarou, em entrevistas dadas a vários jornais, que o seu tio, era um homem inteligente, um grande devorador de livros, e por isso mesmo, um exímio farsante. Chico nada respondeu, permaneceu calado para preservar o sobrinho e toda a sua família. Em um jornal da cidade de Belo Horizonte, Amaury Pena declarou:

 

“Estou aqui para proclamar em alto e bom som que tudo que tenho escrito até agora, apesar das diferenças de estilo, foi criado pela minha própria imaginação, sem que para isso houvesse qualquer interferência de almas do outro mundo, ou qualquer outro fenômeno miraculoso. Assim como tio Chico, tenho uma enorme facilidade para fazer versos, imitando qualquer estilo de grandes autores. Como ele descobri isso muito cedo. Tio Chico é inteligente, lê muito e, com ou sem auxílio do outro mundo, vai continuar escrevendo seus versos e seus livros.”

 

            Além destes argumentos outros companheiros de ideal continuam afirmando que esta mudança era uma antiga aspiração e que Chico Xavier, depois de cuidar de todos os seus irmãos do segundo casamento (promessa feita à sua segunda mãe), já estava programando sua transferência para Uberaba com a concordância do seu benfeitor Emmanuel, pois aquele era um momento oportuno para ampliar suas tarefas ligadas ao Espiritismo.

Além deste projeto já acalentado há alguns anos, o convite feito pelo estudante de medicina e também médium Waldo Vieira, despertou em Chico o desejo de encontrar um companheiro para compartilhar parte desta gigantesca tarefa. É o que podemos observar em uma correspondência datada em 05 de março de 1959 para a amiga e companheira a Sra. Hermelita Horta Soares da cidade de Matozinhos:

 

“Em verdade, minha sempre lembrada irmã, a vinda para Uberaba era um sonho bom que eu esperava realizar, se fosse essa a Vontade de Deus, lá para as bandas de 1965, quando o nosso Waldo já estivesse na posição de um médico especializado na psiquiatria. Entretanto, o caso Amauri me obrigou a tomar nova resolução no silêncio. Não era possível deixar a nossa fé à mercê de um parente assim tão infeliz. Se eu permanecesse em Pedro Leopoldo, qualquer nova declaração desse pobre rapaz teria mais força de impressionar, perturbar e mentir, em nova circulação na imprensa, com mais vastos escândalos para o nosso ambiente espírita. Resolvi, assim, no silêncio de minhas orações, renunciar à felicidade de estar em minha casa e no aconchego do carinho de todos vocês para dar uma resposta sem palavras aos nossos detratores. Desse modo, mais tarde, quando tivermos, aqui, farta documentação de serviço mediúnico a valer como nosso argumento para as perseguições do futuro, tudo reajustaremos de novo, não é? É meu dever demonstrar, mesmo aos meus entes mais queridos, que o Espiritismo com Jesus é a força central de minha vida e que servir à Doutrina Espírita, ainda mesmo com as minhas imperfeições, é a minha primeira obrigação neste mundo.”

 

            E para finalizar estes breves comentários, vamos nos apropriar de um depoimento do próprio Chico Xavier falando sobre Pedro Leopoldo e Uberaba:

 

“Não posso esquecer que em Pedro Leopoldo, Emmanuel e outros Espíritos Amigos trabalharam, através de minhas pobres faculdades, durante trinta e um anos sucessivos, procurando vencer os meus defeitos e adaptar-me para ser o instrumento que eles desejam que eu seja e não posso olvidar que Uberaba me hospeda, carinhosamente, desde janeiro de 1959, dando-me, por intermédio de companheiros queridos, o ambiente necessário para que eu aproveite das lições recolhidas na terra em que renasci para as tarefas da presente reencarnação. Creio que a produtividade mediúnica nas duas cidades se equivalem, porque precisamos descontar e as dificuldades de minha preparação, que tem exigido muito esforço e tolerância dos Bons Espíritos. Creio não ser ingrato afirmando que Pedro Leopoldo é meu berço e que Uberaba é minha benção.” (Folha espírita 1977, página 39)

 

 

Extraído do livro: O Voo da Garça: Chico Xavier em Pedro Leopoldo (1910-1959) de autoria do pedroleopoldense Jhon Harley Madureira Marques

 

Chico Xavier (E) com o amigo e escritor Clóvis Tavares.  Na  imagem seguinte Chico,  na ponta, abraçado ao seu

irmão  André Luiz . Fotos do acervo de Jhon Harley M. Marques.

 

 

 

José Medrado (Salvador, BA)

 

Chico Xavier

 

Muitos verbalizam conceitos que podem comover.  Chico em si é um conceito de vida que sempre comove.

 

Chico Xavier no jardim da Fazenda Modelo, em  Pedro Leopoldo, MG

Foto do acervo de Jhon Harley M. Marques

 

 

 

José Reis Chaves (Belo Horizonte, MG)

 

São Chico Xavier

 

         Chico Xavier,  de quando em vez,   dizia  que não  queria tristeza por ocasião de sua morte. E ele deixou o seu corpo justamente num  momento em que o nosso País  estava  mergulhado no carnaval do Penta.

         Quando se fala em Chico Xavier, tem que se falar também de Espiritismo. E é o que vamos fazer.  Há muitas afinidades entre essa doutrina e o Catolicismo.  É  verdade que o Kardecismo contesta alguns dogmas da Igreja, mas  é  verdade também que ele pratica a caridade mais do que o Catolicismo. E  é com a prática dessa virtude, mais do que com a crença nos dogmas, que se vive mais a mensagem do Mestre.  Ademais,  os espíritas estão sempre  em paz com todo mundo. É que seguem  o ensinamento da Carta de São Tiago:  “A  mão que abençoa,  não deve amaldiçoar”, de que Chico foi um exemplo vivo.

          Criticam injustamente os espíritas, dizendo que eles  dão pouco valor   à  misericórdia divina.  Mas não foi o próprio Jesus quem disse que ninguém deixará de pagar até o último centavo?  E quem aceita mais a misericórdia divina,  aqueles que ensinam que  Deus salvará a todos nós, sem exceção, dando-nos, para isso,  quantas chances  forem necessárias, através das reencarnações,  ou  aqueles que restringem a misericórdia divina   à oportunidade única duma  só  vida, e  só àquelas pessoas que seguem suas  doutrinas? Porém alguns setores católicos  estão  ensinando também  a doutrina espírita da salvação compulsória  para todos, isto é,  a que  caracteriza  a  verdadeira  misericórdia onipotente  e  infinita   de  Deus, contra a qual nada poderá, mesmo porque o Mestre disse: “Deus quer que todos se salvem”. E praza a Deus que os nossos irmãos evangélicos desvencilhem-se também de seus erros  herdados  da Igreja  do passado, como alguns já o estão fazendo.

           E os católicos  comunicam-se também  com os espíritos,  pois o que são os santos senão espíritos?  Não foi, aliás,  o que fizeram  também o próprio Jesus, Pedro, Tiago e João na Transfiguração, quando contataram os espíritos  Moisés e Elias?  Oportuno é  relembrarmos aqui o que nos fala Santo Agostinho  em “Confissões”, ou seja, os seus contatos com sua mãe, Santa Mônica,  já falecida. E leiamos o que diz o  padre Capuchinho italiano, Gino Concetti, comentarista do jornal “Osservatore  Romano”, do Vaticano: “Segundo o Catecismo Moderno, Deus permite aos nossos caros defuntos, que vivem na dimensão ultraterrestre, enviarem  mensagens para nos guiarem em certos momentos da vida.”

          E se  Deuteronômio l8  proíbe isso, não importa, pois a proibição é de Moisés,  e não de Deus propriamente dito, já que ela  não consta do  Decálogo. Aliás, quem  obedece a  todas  as  6l3  proibições de Moisés, entre elas o consumo da carne suína?

        Obrigado,  São Chico Xavier, por nos ter ensinado, com palavras e ações,   tantas  verdades evangélicas!

     

Casa onde Chico Xavier residiu em Pedro Leopoldo, MG., até o ano de 1959.

Hoje nela são realizadas várias atividades e estão expostos  todos os livros de sua

 psicografia,   livros biográficos, primeiras edições, cartas, títulos de cidadania

 honorária, além de objetos de seu uso pessoal. Foto Ismael Gobbo

 

 

Jussara Korngold (Nova Iorque, EUA)

 

Livro-homenagem: Pérolas preciosas de Chico Xavier

 

Irmão Chico,

Devemos tanto a você, e sua dedicação ao esclarecimento espiritual de seus irmãos menores, nos toca as fibras mais íntimas do  coração. Nossa pequena homenagem a você foi escrever este livro singelo em 2004, para que os irmãos de outras terras pudessem vislumbrar um pouco sua grandeza e sua bondade. Este foi o primeiro livro a ser escrito no idioma inglês sobre você.

Nosso amor e nossa gratidão, sempre.

Jussara Korngold

 

 

 

 

 

Leopoldo Zanardi (*) (Bauru, SP)

 

Chico Xavier e o Parnaso de Além-Túmulo

 

     Muitos são os assuntos a comentar sobre os 10 anos sem Chico Xavier. Meu destaque é para o livro “Parnaso de Além-Túmulo”, que neste 6 de julho de 2012 completa 80 anos.

 

     Com o surgimento do "Parnaso de Além-Túmulo", a história do Espiritismo no Brasil inicia um novo rumo, pelas características singulares desse livro e pelas informações contidas no prefácio, escritas por um então desconhecido mineiro de Pedro Leopoldo.

 

     O livro foi psicografado de agosto a dezembro de 1931, ano quando Emmanuel, mentor espiritual de Chico, começou a orientar suas faculdades mediúnicas. Por conselho de amigos, o médium envia a Manuel Quintão, filólogo e também poeta, dezenas de poesias, para que um “expert” no assunto faça uma análise dos estilos e avalie se a autoria dos textos são, de fato, dos poetas que assinavam aquelas produções literárias, isso porque nenhum esforço mental despendia ele, salvo a simples grafia intuitiva e semimecânica.

 

      É de se louvar a atitude de Chico Xavier em pedir uma opinião abalizada, um aval, exemplo que todo médium iniciante na psicografia deveria imitá-lo. Quintão, então diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), responde ao jovem de 21 anos: "Mande tudo que tiver aí! São legítimos os estilos dos versos. Quero-os para a primeira edição do 'Parnaso de Além-Túmulo', que se Deus quiser sairá muito breve." (“Presença de Chico Xavier”, de Elias Barbosa, Editora IDE).

 

    A coluna "Casos e Coisas", escrita por M. Quintão e publicada pela FEB na edição da revista "Reformador" de 1 de novembro de 1931, em sua página 580, noticia sobre o pequeno povoado do rincão mineiro, bem como as primeiras informações sobre o médium: "Floração pobre, de economia e trabalho. Muita inteligência, muita modéstia, poucos livros, escasso tempo, precário estudo".

     Em 16 de abril de 1932, pela mesma revista, Quintão escreve nas páginas 236 e 237: "Já entrou para o prelo o "Parnaso de Além-Túmulo", preciosa coletânea de poesias mediúnicas, cuja excelência e vigorosa autenticidade já proclamamos nestas colunas".

 

     Lançado o "Parnaso de Além-Túmulo", em 6 de julho de 1932, o pequeno volume de 156 páginas e 60 poesias logo chama a atenção, porque os autores eram poetas luso-brasileiros, que do além mandavam por via mediúnica suas composições, com seus estilos inconfundíveis. Eram 14 poetas: Augusto dos Anjos, Auta de Souza, Antero de Quental, Bittencourt Sampaio, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Casimiro Cunha, Cruz e Souza, Guerra Junqueiro, Júlio Diniz, João de Deus, Pedro de Alcantara, Souza Caldas e um poeta desconhecido.

 

     O primeiro intelectual a se manifestar foi Humberto de Campos, da Academia Brasileira de Letras, que em sua crônica de 10 de julho de 1932, intitulada "Poetas do outro mundo", veiculada no jornal "Diário Carioca", afirma: "Eu faltaria ao dever que me é imposto pela consciência se não confessasse que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e expressão que os identificavam nesta planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam nesta vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos...".

 

     Dois dias depois, pelo mesmo jornal, o escritor maranhense, na crônica "Como cantam os mortos", diz: "O Parnaso de Além-Túmulo", do Sr. Francisco Cândido Xavier, cujos objetivos examinei em artigo anterior, merece trato mais grave e demorado". Depois de analisar vários poetas e suas respectivas poesias, conclui: "O Parnaso de Além-Túmulo" merece, como se vê, a atenção dos estudiosos, que poderão dizer o que há nele, de sobrenatural ou de mistificação". (“A Psicografia ante os Tribunais”, de Miguel Timponi, Editora FEB).

    Nem sobrenatural nem mistificação. O maravilhoso e o sobrenatural não existem, explica Allan Kardec: "O pensamento é um dos atributos do Espírito. A possibilidade que eles têm de atuar sobre a matéria, de nos impressionar os sentidos e, por conseguinte, de nos transmitir seus pensamentos, resulta, se assim nos podemos exprimir, da sua própria constituição fisiológica. Logo, nada há de sobrenatural neste fato, de maravilhoso. Que um homem morto e bem morto volte a viver corporalmente, que seus membros dispersos se reúnam para lhe formarem de novo o corpo, isto sim seria maravilhoso, sobrenatural, fantástico. Haveria aí uma verdadeira derrogação da lei, o que somente milagre Deus poderia praticar. Não existe, porém, coisa alguma de semelhante na Doutrina Espírita” (“O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, Editora FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, 1e, 2008, p. 32).

 

     Nem mistificação, nem pastiche, nem escrever à maneira de... No caso de Chico Xavier, que tem em sua produção mediúnica dezenas de livros no gênero poesia e com centenas de poetas desencarnados, de diferentes regiões do Brasil e do Exterior, seria humanamente impossível imitar o estilo de todos eles, a maioria desconhecidos, com notoriedade apenas na cidade em que viveram. Como pode um homem sem instrução superior conhecer todos os estilos de todos os Espíritos comunicantes e tentar enganar literatos experientes e cientistas de renome internacional que investigam a fenomenologia paranormal?

 

     Eis a opinião respeitável do escritor e tradutor Wallace Leal V. Rodrigues sobre o assunto: "(...) pondo-se de lado a obra de Kardec, 'Parnaso de Além-Túmulo' é, por certo, a maior sensação da literatura espírita. A poesia, com suas rígidas leis, é muito mais do que a constatação de um estilo, é a 'prova ácida' da mediunidade psicográfica. O 'Parnaso' sai dessa prova: está acima de mal-entendidos, é um marco na história do Espiritismo” (“Chico Xavier, 40 Anos no Mundo da Mediunidade”, de Roque Jacintho, EDICEL, 1e, 1961, p. 264).

 

     Em 2008, fiz uma entrevista com o professor Alexandre Caroli Rocha, questionando-o de o porquê dele defender sua dissertação de mestrado, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre o "Parnaso de Além-Túmulo". Ele me respondeu: "Eu estava  na graduação em Letras, na Unicamp, quando tomei conhecimento do livro. Aos poucos, fui me interessando por aquele conjunto de poemas atribuídos a autores das literaturas brasileira e portuguesa. Considerava muito intrigantes aqueles textos. No mestrado, resolvi fazer um esboço de projeto para estudar o 'Parnaso de Além-Túmulo', que desperta vários questionamentos relativos a temas caros aos estudos literários, como as noções de autoria, de mundo, de leitor, de estilo, entre outros. Após conseguir um orientador, concluímos o projeto e o submetemos à Fapesp, que financiou o estudo durante dois anos. A dissertação foi apresentada em 2001. A quem se interessar, está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp”. (Anuário Espírita 2010/IDE).

 

     O pesquisador prosseguiu estudando a obra de Chico Xavier, na mesma universidade, quando no mês de junho de 2008 defendeu seu doutorado com a tese sobre o "Caso Humberto de Campos".

 

     O "Parnaso de Além-Túmulo" é, se assim podemos chamá-lo, de o "grid" de largada da grandiosa obra mediúnica de Chico Xavier, que até hoje (junho de 2012) já contabilizou 465 livros. Não temos nenhuma fonte segura, mas alguns pesquisadores afirmam que já teria ultrapassado a marca de 50 milhões de cópias vendidas. Sem dúvida, um feito extraordinário!

 

(*) O autor é professor de História e expositor espírita do Centro Espírita "Amor e Caridade" (CEAC) de Bauru-SP.

 

 

CAPA DO LIVRO PARNASO DE ALEM TUMULO EM  SUA  PRIMEIRA EDIÇÃO NO ANO DE 1932

 

Raio X do "Parnaso"

Título completo: Parnaso de além-túmulo  (poesias mediúnicas)

Médium: Francisco Cândido Xavier

Autoria: Espíritos Diversos

1a. edição: 06 de julho de 1932

Editora: FEB, Rio de Janeiro

9a. edição: definitiva, revista e ampliada pelos Autores Espirituais 

Edição atual: 19a. (Projeto Centenário de Chico Xavier), 2010, tamanho grande

Tiragem total de todas as edições: 97.500 exemplares

Edição definitiva: 56 poetas e 259 produções literárias, com comentários sobre o estudo da obra por Elias Barbosa

Número de páginas: 702

 

 

 

 

Lucy Dias Ramos (Juíz de Fóra, MG)

 

Chico Xavier – Uma luz no meu caminho...

 

 

 

 

“A sabedoria é o caminho. O amor é a luz”. Emmanuel

 

Ele caminhava ao nosso encontro... Seus passos eram firmes, seu olhar terno e penetrante envolvia-nos em ondas de paz... Revejo-o em minha mente com a mesma expectativa de outrora e sinto novamente a paz e uma alegria incontida dominar meu ser.

Ao entardecer, reuníramos na plataforma da estação ferroviária para esperá-lo e todos guardávamos a mesma ansiedade e nos emocionamos ao vê-lo descer do trem que chegara de Minas. Jamais esquecerei aquele homem simples caminhando ao nosso encontro, naquela tarde tão distante de minha vida.

Eram freqüentes as suas viagens para determinadas cidades, quando ele trabalhava no Ministério da Agricultura e participava das exposições agropecuárias. Vindo de Belo Horizonte, o trem que o conduzia, baldeava em Barra do Piraí para seguir, algumas horas depois, para São Paulo. Chico Xavier chegara no Expresso de Minas e seguiria para Cruzeiro. Certamente seria acompanhado pelo saudoso Sebastião Lasneau que sempre o acompanhava nestas viagens, desfrutando de sua companhia e de sua amizade.

Morávamos em Barra do Piraí, neste ano de 1952. Meus pais e alguns confrades se reuniram na estação para recebê-lo. Iríamos fazer uma refeição juntos e depois o levaríamos de volta para o embarque rumo à cidade de Cruzeiro.

Éramos poucos... Lembro-me do Sebastião Lasneau, Paulo Marins, Sr. Jacinto (presidente do Grêmio Espírita naquela época), Sr. Abel Macedo e D. Maria, sua esposa, meus pais e eu, que não poderia ficar muito tempo porque estudava à noite e tinha prova naquele dia.

Abraçamo-nos felizes... Chico sempre humilde e atencioso falou da alegria daquele encontro agradecendo-nos a gentileza da companhia naquela espera do trem noturno... Ouvia-o com atenção, e quando me dei conta já era hora de ir para o colégio fazer prova de Química... Ah! como me arrependo de não ter “matado” aula para ficar mais tempo sem sua companhia... Despedi-me de todos e Chico Xavier ficou na gare da estação olhando-me distanciar...

Passaram-se os anos... O médium querido ficou famoso. Foi ficando cada vez mais difícil revê-lo e muitas vezes desejei abraçá-lo, novamente, falar-lhe com o coração, aconselhar-me com ele... Mas isto não foi possível da forma habitual.

Aconteceu, porém, durante um sonho singular. Quatro anos após aquele encontro inesquecível, perdi minha irmã mais velha, que era espírita e amiga de Chico Xavier, a quem devotada grande estima e admiração.

Anos depois, já casada, em 1967 completava 10 anos de aniversário de meu casamento e recordava com muita saudade minha irmã, quando ao deitar-me orei a Jesus pedindo que se possível a encontrasse naquela noite. Ela não comparecera materialmente ao nosso casamento e seria motivo de muita felicidade estarmos juntas novamente. Era uma noite chuvosa de janeiro. Estávamos na Fazenda e sonhei que Chico Xavier viera nos visitar e, na sala, junto à varanda sorria para nós dizendo:

“Sua irmã não poderá estar com vocês esta noite. Mas recebi uma carta dela para vocês e a trouxe.” E pausadamente leu algumas laudas de papel.

Enquanto ele lia, observei surpresa que não era sua voz que ouvíamos e sim a de minha irmã, orientando-nos e aconselhando-nos como o fazia quando encarnada. Ficamos muito emocionados e ao acordar, uma sensação de paz e felicidade, como há muito não sentia, se apoderou de mim.

Algumas outras vezes sonhei com ele e sempre a mesma paz e serenidade íntima em meu ser. Logo que comecei a escrever e não mostrava a ninguém meus artigos, guardando-os na gaveta de minha mesa no escritório, sonhei que descíamos juntos a rampa do 2º piso da Casa Espírita, e ele aconselhava-me a publicar o que escrevera, dizendo: “Cuidado com os talentos perdidos. Distribua com os outros seus sentimentos, suas experiências, seu conhecimento...”.

Tempos depois, o revi em Juiz de Fora. Creio que foi a última vez que esteve em nossa cidade, na década de 1980. Aguardei em longa fila, noite a dentro, para poder falar com ele, durante sua visita  à Casa do Caminho. Mesmo estando, ainda há alguns metros distante de sua presença, já sentia a emoção e a vibração de paz que emanava de seu coração amoroso...

Diante dele, emocionada, antes que pronunciasse qualquer palavra, ele assim se expressou: “Querida irmã Lucy. Há quanto tempo... Como vão nossos amigos de Barra do Piraí, Sr. Plínio e D. Zezé? E o Lar da Criança?”

Respondi-lhe as perguntas, com muita pressa, porque muitos aguardavam na fila a vez de falar-lhe. Beijou-me o rosto, entregou-me o botão de rosa que estava sobre a mesa e de sue olhar senti emanar toda a força do amor...

Invadiu-me uma sensação de paz e euforia que perdurou muitas horas...

Como está distante aquele entardecer em que um homem simples e bondoso caminhava em minha direção... Quantas vezes tentamos nos acercar dele, nestes anos todos à procura de uma orientação, de um apoio fraterno, de sua paz e não conseguimos...

Chico Xavier – a expressão mais real do amor e da bondade que um ser humano pode apresentar em nossos dias conturbados...

Ele partiu. Agora para uma nova dimensão de vida.

Nossos encontros serão cada vez mais difíceis! Mesmo em sonhos!

 

Lucy Dias Ramos

(Texto do livro “Recados de Amor”, FEB. 2008. cap. 5)

 

Dona Cidália Xavier Carvalho, a única dos irmãos de Chico Xavier,  encarnada.

Na foto ela oferece uma rosa para Chico. Pedro Leopoldo, MG

Foto Ismael Gobbo

 

 

 

Luiz Carlos de Souza (Uberaba, MG)

 

O inesquecível Chico Xavier

 

Chico Xavier teve sua vivência mais pura dos ideais cristãos no Brasil. Foi o Evangelho de Jesus personificado.

Chico Xavier além ser o maior expoente da mediunidade em todos os tempos da Humanidade, desdobrando e complementando o Pentateuco Kardequiano, vivenciou a doutrina Espírita em todos os seus aspectos.

Chico Xavier mora em nossos corações.

 

O acervo histórico de Chico Xavier (1910-2002)  exposto

na casa onde residia em Uberaba e seu túmulo no Cemitério São João Batista

daquela cidade. Fotos Luiz Carlos de Souza, Uberaba, MG  

 

 

Márcia Regina Guissi (Birigui, SP

 

Obrigada por tudo, Chico Xavier!

 

Dez anos sem a presença física de Chico faz-me sentir como não ter sombra para descansar ou mesmo ser dia sem a luz solar.

Dez anos co m a presença espiritual de Chico sobre os brasileiros e o Brasil faz-me sentir como a criança que estende os braços e encontra apoio, o jovem que vislumbra o futuro e o sente fruir no momento presente, o adulto que labuta e vê resultados em si mesmo, o ancião que está convicto da Vida!

Estar na presença física e espiritual de Chico nos faz sentirmo-nos diante de Um Santo Homem de Bem!

 

Chico Xavier nos derradeiros dias da  existência física.

Sempre perseverante e fiel a Jesus. Foto Ismael Gobbo

 

 

 

 

 

 

Orson Peter Carrara (Matão, SP)

 

30 de junho

 

         Sim, ele também é gente. Percebe-se, a certo ponto da vida, com sensações estranhas que não consegue entender, nem explicar. Normalmente sofre preconceitos e, quando é reconhecido como tal, torna-se alvo de bajulações e chega a ser endeusado pela ignorância dos que não o compreendem – com sérios riscos de vaidade que podem colocá-lo a perder-se em seus compromissos.

         Mas é gente como qualquer outra pessoa. Tem sangue nas veias, sente dor, precisa descansar, alimenta-se como qualquer ser humano. Também fica bravo e sente-se magoado, mas quando consciente de seus compromissos, é convidado a comportamento de humildade e de trabalho em favor do próximo.

         Sim, pois que seu compromisso é para o com o bem geral, no atenuar das aflições humanas, como veículo ou instrumento de socorro às agonias e tormentos que rondam o ambiente da família e da sociedade em geral.

         Nem por isso, todavia, é um privilegiado. É um ser comum, mas trouxe consigo uma bagagem diferenciada, tendo em vista atender ao próprio compromisso antes firmado. Se o cumprir com idoneidade, sentirá as alegrias da consciência que cumpriu seu dever. Se explorar ou mal conduzir a capacidade que pode se apresentar em diferentes graus, sentirá o peso das consequências danosas que só podem provir da irresponsabilidade ou da omissão.

         Mas como a falta de conhecimento ainda o qualifica como se privilegiado fosse, sofre assédios e exigências descabidas, expondo-se à incompreensão inclusive no seio da própria família. Como independe de idade, sexo, religião, estágio social ou intelectual, seu uso e aplicação, todavia, sofre séria influência do aspecto moral, podendo tornar-se fonte de muitas bênçãos ou alegrias ou causa de sérios e graves desastres morais, com consequências danosas de longo alcance.

         O mais marcante ainda, e para surpresa de muitos, é que ele não é privilégio nem invenção, nem tampouco de domínio de qualquer religião. Trata-se de uma capacidade humana, extremamente variável na forma de apresentação e percepção daquele que a detém de maneira mais ou menos ostensiva, independente do nome que lhes queiramos dar.

          Na infância todos fomos por eles beneficiados, nos chamados benzimentos, e ao longo da vida, sempre tivemos uma ou outra notícia que vieram por meio desses personagens normais da vida humana, normalmente incompreendidos. No passado foram considerados feiticeiros, bruxos; atualmente são temas de filmes e novelas, tendo já disponível farto material literário que possibilite estudá-los amplamente para bem compreendê-los.

         Sim, referimo-nos aos chamados sensitivos, ou médiuns. Homens e mulheres comuns da sociedade humana que trouxeram consigo um compromisso de trabalho em favor da evolução, como instrumentos de socorro, instrução, orientação, cura física e moral, lúcidos portavozes da vida imortal ou veículos equivocados que, por não se disciplinarem ou desconhecerem a própria faculdade, podem tornar-se meios de perturbação a despreparados que igualmente desconhecem a questão.

         Por isso, nesta data de 30 de junho, comemorativa dos dez anos de retorno à Pátria verdadeira, do médium Chico Xavier – modelo de mediunidade a serviço do Cristo – nossa homenagem carinhosa de gratidão, àquele que incorporou no próprio comportamento os exemplos de autêntica humildade, amor ao próximo e plena consciência de seus deveres.

O jovem médium Chico Xavier, aos 25 anos, conversando com o repórter Clementino

de Alencar,  do jornal O Globo,  que com ele  esteve em Pedro Leopoldo realizando várias reportagens

 no ano de 1935. Foto do livro Notáveis Reportagens com Chico Xavier. IDE  Editora, Araras, SP.

 

 

 

Otávio Franklin da Cunha Neto (Itapira, SP)

 

Algumas palavras para Chico Xavier

Quando falamos do nosso Francisco Cândido Xavier, carinhosamente chamado de Chico Xavier, vem-nos à mente a constatação de que o movimento espírita brasileiro e mundial teve duas fases distintas e muito bem definidas: o antes e o depois de Chico Xavier. Podemos dizer que seu trabalho mediúnico, composto por mais de quatro centenas de obras que guardam sintonia perfeita com o Evangelho de Jesus e a codificação do mestre lionês Allan Kardec, insere-se no contexto do Consolador Prometido pelo Mestre de Nazaré.

          Não bastasse a grandiosidade da obra mediúnica, cabe ressaltar com mais destaque ainda a conduta exemplar de Chico ao longo de seus 92 anos de existência física dos quais quase 75 foram dedicados ao Espiritismo. Não foi por acaso que acabou sendo eleito o Mineiro do Século em enquete da Rede Globo Minas concorrendo com diversas outras personalidades ilustres.

         Os livros e a história de vida de Chico Xavier nos servem como alavanca preciosa em busca da renovação íntima que nos direciona para o objetivo primordial a que todos nós almejamos,  o da nossa perfeição.

         Hoje temos a alegria de conversar com amigos de minha cidade, Itapira, sobre as histórias de Chico quando aqui esteve em oportunidades de visita a um sobrinho paciente da Fundação Espírita Américo Bairral. E mais satisfação sentimos, por saber que foi aqui, em Itapira, que surgiu a primeira conversa para o futuro programa Pinga Fogo, que aconteceria no ano de 1971.

          O fato mais importante: contam-nos os amigos itapirenses que o Dr. José Carlos de Camargo Ferraz, promotor, veio à Itapira na segunda metade da década de 50. Nessa época já visitara Uberaba e teve um contato estreito com o Chico. Inúmeras vezes lá esteve com a esposa Dona Lia Camargo (Ana Maria Silva de Camargo Ferraz), a qual hoje relata que foi o Dr. José Carlos que ao final da década de 60, convenceu o Chico a receber o Saulo Gomes, repórter, uma vez que o médium mineiro, na época, vinha evitando entrevistas, e a amizade que se tinha entre Chico e Dr. José Carlos, fez com que Saulo Gomes tivesse a oportunidade de conversar. Foi quando Chico concordou com o encontro, do qual acabou resultando a ida ao programa “Pinga-Fogo”, em duas oportunidades: julho e dezembro 1971, relatou-nos também José Eduardo Rocha Pereira outro dos amigos de Itapira.

          Sabemos que o trabalho do Chico continua firme e forte, e ele, muito mais forte ainda, como o eterno missionário do bem.

Chico Xavier recebido por Juarez de Moura recebe o Chico em Itapira, SP. Na outra foto a visita de Chico Xavier ao

Lar Espírita Gracinda Batista, onde andou por toas as dependências e participou das atividades daquele dia.

 

 

 

 

Raymundo Rodrigues Espelho (Campinas, SP)

 

Chico Xavier, ontem, hoje e eternamente

 

                                

"O Espiritismo é doutrina de responsabilidade intransferível e inexorável. Cada um de nós terá de ser o artífice de sua própria felicidade ou desdita e, sempre, sempre com responsabilidade pessoal." –  José Jorge (1)

 

  A História da vida de Francisco Cândido Xavier, ou simplesmente Chico Xavier, já foi contada em prosa e verso. Reencarnou em Pedro Leopoldo, MG, no dia 2 de abril de 1910. Transferiu sua residência para Uberaba, no mesmo estado, em 1959, tendo a transformado em uma verdadeira cidade dos espíritas. Desencarnou nesse mesmo torrão mineiro, no dia 30 de junho de 2002, quando mais de cem mil pessoas(2) compareceram para prestar suas últimas homenagens.

 

Chico iniciou suas atividades psicográficas no dia 8 de julho de 1927, com apenas 17 anos de idade, tornando-se com os anos o maior fenômeno mediúnico do século 20 e o médium espírita mais conhecido no mundo.

Sua primeira obra, Parnaso de Além-Túmulo, foi publicada pela Federação Espírita Brasileira em julho de 1932. E até 2002, mais de 400 obras psicografadas ganharam o público, não só do Brasil, mas de todo o  mundo, dando a dimensão do imenso valor de sua obra e de sua contribuição para o entendimento do Espiritismo.

 

Depoimentos

 

Os depoimentos sobre a vida e comportamento retilíneo de Chico são infindáveis.

Vejamos este narrado por Rafael Américo Ranieri(3), reportando-se ao trecho da carta que o médium endereçou em 16/10/55 ao então presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas, contando, que, ele [Chico], houvera lamentado a elaboração de sua biografia, afirmando: " ...não me canso de dizer a todos que sou apenas uma besta em serviço e não me consta que uma besta tenha biografias..."

Outro depoente: Jarbas Leone Varanda, (4) conhecido escritor e jornalista espírita mineiro, parafraseando Camille Flammarion, nos dizeres: “Allan Kardec é o BOM SENSO ENCARNADO", afirma que Chico Xavier é o EVANGELHO PERSONIFICADO, acrescentando: “Chico Xavier, sem ter a pretensão de chefia do movimento espírita, torna-se pela EXEMPLIFICAÇÃO MORAL, uma autêntica AUTORIDADE ESPIRITUAL, respeitável em toda sociedade brasileira".

Descrevendo o que Chico Xavier lhe contara, o escritor Elias Barbosa(5) narra:

"Lembro-me que num dos primeiros contatos comigo, ele, Emmanuel, me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por longo tempo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais, que se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que eu deveria permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo".

 

 Assim foi em vida o nosso querido Chico Xavier. Viveu as lições evangélicas em todos os instantes de sua preciosa existência. Até nos pequeninos atos, sempre deixava falar mais alto a pureza doutrinária. É por isso que ele sempre foi tão querido por todas as pessoas, principalmente aquelas que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

Deus o abençoe eternamente, Chico, amigo e irmão, pelo muito que fez pela Doutrina Consoladora e pela Humanidade.

 

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1) Ilustrações Doutrinárias, José Jorge, Ed. CELD, Rio de Janeiro,1977, volume I, pág. 183.

2) Chico Xavier, o Santo de Nossos Dias, R. A. Raniére. Ed. Eco, 1976.

3) Anuário Espírita 2003. p. 31. Ed. IDE.

4) Jornal Triângulo Espírita. Julho/agosto de 1992.

5) No Mundo de Chico Xavier – entrevistas, Elias Barbosa. Ed.ID

Sede  do Centro Espírita “Luiz Gonzaga” fundada por Chico Xavier aos 02 de abril de 1950.

Pedro Leopoldo, MG. Foto Ismael Gobbo

 

 

 

 

Regina Zanella (Milão, Itália)

 

Chico Xavier na mídia italiana

 

Era 1997 quando visitei Uberaba pela primeira vez.

Naqueles dias diziam: «Chico esta se despedindo!...»

Como previsto, a fila para “despedir-se” era longa. Pessoas de todas as partes do Brasil, que haviam viajado horas e horas, simplesmente para cumprimentá-lo, ou somente passar diante do seu portão.

Uma jovem atrás de mim dizia: «Quem sabe desta vez eu consiga vê-lo, é a terceira vez que venho aqui, mas quando está para chegar a minha vez, sou pega por uma emoção inexplicável, não consigo parar de chorar, não consigo dizer uma única palavra, portanto,  eu o vejo somente através das minhas lagrimas”.

Esta declaração me fez um certo efeito, esperava eu também começar a chorar, mas quando o vi, sorri. Era lindo demais! Uma vontade enorme de abraçá-lo... e agradecer.

Uma vez de volta a Itália, contei a minha experiência a uma amiga, a jornalista italiana Paola Giovetti,  que queria que todo o pais soubesse quem era Chico Xavier.

E assim, a capa da edição de dezembro da revista italiana Visto, dezembro de 1997, trouxe a imagem de Padre Pio, o Santo italiano, ma no seu interior, a imagem e a historia do do Brasileiro que anos apos seria conhecido também como “O Mineiro do Século”: Francisco Candido Xavier, ou seja, o nosso querido Chico Xavier. Foi a primeira vez que uma revista italiana, a nível nacional, publicou uma matéria sobre um médium espírita brasileiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Revista “O Médium” (Juiz de Fora, MG)

 

Ave, Chico!

 

Suely Caldas Schubert

 

    Até o último instante, o médium mineiro Francisco Cândido Xavier, nosso amado

Chico Xavier, deu testemunhos de sua superioridade espiritual.

    Às vezes, nós espíritas, nos perguntávamos o motivo pelo qual Chico estava passando

prova tão dolorosa nos seus derradeiros anos de vida física. Aos nossos olhos, um Espírito

de escol quanto ele mereceria passar para o plano espiritual sem tantas dificuldades ao seu

redor e sem os sofrimentos decorrentes do enfraquecimento orgânico.

    Estultice nossa! Que poderíamos saber dos planos divinos e da capacidade de doação,

de Chico Xavier!

    Ele se despediu aos poucos. Era preciso que nos acostumássemos com sua ausência

e aprendêssemos, muitos de nós, a viver sem a sua presença confortadora, sem tantas

expectativas em torno de sua mediunidade. Era necessária uma lição a mais de dignidade

e estoicismo até o último hausto da vida física.

    Não importava que ao seu redor as interpretações fossem distoantes. Ele permaneceu

impávido, bom como uma criança sorrindo para o mundo, sereno como sói a consciência tranquila

pode proporcionar.

    As ondas revoltas do mar da vida humana, junto a ele, serenavam e se diluiam na praia

dos seus nobres sentimentos.

    O burburinho das discussões estéreis em torno de sua pessoa não o atingiam.

    Talvez, diante de seus olhos desfilassem as cenas de sua vida, em forma de uma

interminável fila de pessoas que o procuravam, encarnadas e desencarnadas, clamando

por socorro, pedindo orientações, ansiando por novas esperanças, sequiosas de paz e

famintas daquele amor que o seu coração generoso e compassivo sabia dar, que

então se expandia em luz atendendo a cada um.

    Ou então rememorava a "chuva de livros", as suas obras mediúnicas, que se

tornaram representações dos seu amor e dos Benfeitores Espirituais que as

ditaram, todas elas, a fecundar as leiras dos corações humanos.

    Quem sabe sentisse ao seu lado os seus "irmãos do arco-íris", agora uma assembléia

tão numerosa, a fitar seu semblante sereno, sorrindo e envolvendo-o com o tépido

calor de seus corações.

    É certo que tivesse a seu lado o vulto materno, pedindo-lhe que esperasse um pouco

mais, e ele, recordando o medo que sentia em tenra idade, agora sorrisse e, agradecendo

a Deus, deixava que a paz do dever cumprido inundasse a sua alma.

    Num dia feliz ele se foi para a Vida Maior.

    A manhã, que resplandecia à claridade do sol , explodiu em alegria ruidosa. O

povo cantava as ilusões passageiras.

    No entardecer, quando o ciclo do dia se fechava, ele foi chamado. Um coro de

bênçãos o envolveu.

    Vem! disse Emmanuel.

    Vem! convidou a maezinha querida.

    Vem conosco, chamaram os irmãos do arco-íris.

    Ele se foi.

    Um rasto luminoso pairou nos céus e uma imensa caravana de luz, dos agradecidos,

o acompanhou.

    "Em lirial estandarte brilhava a saudação tocante e sublime: Ave, Cristo! Os que vão

viver para sempre te glorificam e saúdam!"

 

Chico Xavier, o terceiro a partir da esquerda com sua família no ano de 1929

Foto do acervo de Jhon Harley Madureira Marques, Pedro Leopoldo, MG

 

 

 

 

Richard Simonetti (Bauru, SP)

 

Chico Xavier – 10 anos

 

Matéria originalmente publicada na RIE-

Revista Internacional de Espiritismo.

Gentilmente cedida para esta homenagem.

Casa Editora O Clarim, julho de 2012

 

 

www.oclarim.com.br

 

 

 

 

Suely Caldas Schubert (Juiz de Fora, MG)

 

Chico Xavier e os cinco romances de Emmanuel

           

 

Tenho sido frequentemente solicitada a relatar como foi o meu primeiro encontro com o querido e saudoso Chico Xavier.  Assim, antes  de abordar o tema em epígrafe, começarei do começo de tudo.

   No início do ano de 1961 fui com meu marido, pela primeira  vez a Uberaba, com a finalidade de conhecer Chico Xavier. Estava então com 22 anos de idade. Eu exercia, há anos, diversas atividades no Centro Espírita Ivon Costa, de Juiz de Fora, MG, juntamente com toda minha família e, em especial, integrava  uma das reuniões mediúnicas  . Era evangelizadora, tarefa que iniciei muito cedo, aplicava passes e trabalhava na reunião de desobsessão, na psicofonia e na psicografia.

   Havia, porém, um motivo muito especial que me levou a decidir procurar o querido médium, que  admirava e estimava, lendo todos os livros por ele psicografados e estudando-os, simultaneamente com a Codificação (à época era o livro A Gênese o nosso interesse),  com o grupo de jovens, na Mocidade Espírita “João de Deus” , daquela Casa espírita.

   Em certa reunião, aconteceu  algo diferente  no exercício da psicografia, pois recebi uma mensagem de um Espírito que assinou um nome que desconhecia: Militão Pacheco. Entretanto, logo depois fiquei sabendo que Chico Xavier havia psicografado páginas desse mesmo Espírito. Ainda sem saber quem era, pois ninguém sabia me informar, resolvemos, meu marido e eu, viajar até Uberaba, com o objetivo de perguntar ao médium  mineiro, se eu estava mesmo recebendo mensagens do tal Espírito. Imaginava, em minha simplicidade e  inexperiência, que seria impossível, de minha parte, psicografar um dos Espíritos que Chico Xavier também psicografava.

   Por aquela época, Chico não havia fundado o Grupo da Prece e trabalhava na Comunhão Espírita Cristã, de Uberaba. Fomos cheios de esperanças, porque, afinal de contas, iríamos conhecer o médium de Emmanuel, de André Luiz e de muitos outros autores espirituais, que eu habituara a ler. Ao chegar ao local havia um pequeno grupo de pessoas, pois ainda não era tempo das multidões a procurar o Chico para conseguirem notícias do Além. Combinamos que seríamos os últimos, quem sabe, por isso, teríamos mais tempo com ele. E não é que acertamos?

   Chegando a nossa vez, nos primeiros passos para nos aproximarmos do local onde ele se achava, à pequena distância, talvez pouco menos de dois metros, ele olhou-nos e disse, textualmente, o meu nome, o motivo pelo qual ali estava e confirmou o que iria perguntar, em palavras que gravei para todo o sempre:

   “ – Suely, minha filha, eu não sabia que você estava aqui. Nisto eu vi chegar o nosso Dr. Militão Pacheco e abraçar uma pessoa, quando olhei era você!”

   Dizer da minha emoção é difícil... Imediatamente fui tomada de uma intensa emoção pela surpresa e pela vibração amorosa com que nos envolvia, fiquei sem fala, lágrimas vieram aos meus olhos, mal conseguia dar alguns passos e, finalmente, o abracei. Ele saudou-nos como se fôssemos velhos amigos, disse o nome do meu marido, Lenier, e deu-lhe um beijo  no peito do lado do coração. Nós dois quase tivemos um desmaio – digo sinceramente. Chico ia falando, talvez para que ambos recuperássemos o equilíbrio emocional. Conversou demoradamente conosco. Perguntava então sobre o “Ivon Costa”, sobre dois de seus fundadores, Isaltino da Silveira e Edson Mega; falava dos Espíritos que nos acompanharam na viagem, entre eles, Epaminondas Braga, Ismael Gomes Braga,, D. Zuzu Miranda, o próprio Ivon Costa.

   Assim tudo começou.

   Voltei diversas vezes a Uberaba. Muitos anos depois  a FEB, na pessoa do seu então presidente, Francisco Thiesen, convidou-me a escrever um livro comentando  a correspondência entre Chico Xavier e Wantuil de Freitas, que aceitei,  encantada com o ensejo de estar com ele mais vezes. Minhas viagens a Uberaba, durante um certo tempo, ficaram  interrompidas, eu estava com quatro filhos pequenos, dificuldades as mais diversas e sem tempo ou recursos para ir até lá.  No momento de receber o precioso material das cartas, estavam presentes, além do próprio Francisco  Thiesen, o filho de Wantuil de Freitas, Zêus Wantuil, Dr. Juvanir Borges de Souza e a médium e trabalhadora da FEB, Tânia de Souza Lopes. Um mês depois fui a Uberaba para entrevistar-me com o Chico a fim de pedir-lhe autorização para publicar a correspondência particular que ele manteve por 21 anos com o Dr. Wantuil  de Freitas, de 1943 a 1964. Ele concedeu-me a autorização verbal e, posteriormente, a FEB providenciou um documento para que a autorização fosse legalizada, conforme é de praxe. Assim surgiu o meu livro TESTEMUNHOS DE CHICO XAVIER..

   O que desejo, todavia,  ressaltar aqui é a psicografia de Chico Xavier, dos cinco romances de Emmanuel, a saber: Há dois mil anos, Cinquenta anos depois, Paulo e Estêvão, Ave, Cristo e Renúncia, publicados pela FEB.

   A recepção de romances, especialmente estes cinco , e por justiça devo estender para  mais alguns outros romances  da nossa literatura espírita, que alcançam um nível de beleza e conteúdo como raramente encontramos, requer uma condição muito especial do médium, que além de ter uma especificidade mediúnica adequada ao mister apresenta, igualmente, moral elevada e o transe mediúnico necessário e apropriado a captar com a maior  fidelidade o pensamento do autor espiritual. Este poderá ser Emmanuel, Victor Hugo, Bezerra de Menezes, Léon Tostoi, Manoel Philomeno de Miranda, André Luiz, ou Léon Denis, etc. Deve-se levar em conta que estes Espíritos possuem um teor vibratório de elevada voltagem, mormente no instante da criação literária, imprescindível para a formação das cenas mentais que desejam tornar visíveis ao médium, cenas fluídicas  estas que, via de regra, são do passado longínquo do médium e do comunicante ou projeções dos mundos espirituais superiores.

   No ano de 1953, Chico Xavier, ainda em Pedro Leopoldo, anunciou, através de correspondência para Dr. Wantuil de Freitas, datada de 01 de março, que estava psicografando novo romance de Emmanuel. Menciona o título, AVE, CRISTO, em carta de 28 de maio de 1953, citando : “ Recebi muitos ensinamentos e inesquecíveis emoções na psicografia desse livro, e a tua opinião confortadora representa abençoado estímulo para mim.”

   Este romance tem aspectos muito interessantes que Chico narra, inclusive a contribuição de Wantuil de Freitas, o que é surpreendente, conforme está no meu livro TESTEMUNHOS DE CHICO XAVIER.

   O livro Paulo e Estêvão, entretanto, magistral obra, dentre todas, de Emmanuel, merece um destaque  especial. Para ressaltar a sua importância vou passar a palavra à nossa querida Yvonne A. Pereira, que ouviu do próprio médium mineiro, alguns detalhes das emoções que o dominavam enquanto o psicografava. Segundo ela, Chico relatou que,

“ ao receber de Emmanuel este livro,  assistiu, deslumbrado, à cena da aparição do Nazareno a Saulo de Tarso, na estrada de Damasco, quadro fluídico criado pela palavra espiritual  do autor da obra, que a está ditando psicograficamente. Comovido, o médium não suporta tanta grandeza. Abandona o lápis, prostra-se de joelhos e chora as mais sublimes lágrimas.”

O médium, em tais ocasiões, comenta Yvonne, tem a sua sensibilidade elevada ao máximo - e esclarece- que o trabalho é sempre difícil, exige o máximo de harmonia, amor à causa, pureza de intenções, humildade, paciência, perseverança, renúncia, espírito de sacrifício, desinteresse. (Devassando o Invisível, FEB, 1964)

Observando no texto acima, a frase: quadro fluídico criado pela palavra espiritual, entenda-se que se refere às formas-pensamento, ou seja, vibração mental de Emmanuel, que com o poder do seu pensamento e da vontade atua sobre os fluidos espirituais existentes no Universo, criando as cenas que forem necessárias, o que pode dar-se por automatismo, devido à velocidade do pensamento.

Allan Kardec aborda o assunto no capítulo XIV de A Gênese, it.15, sendo que o Codificador denomina de fotografia do pensamento o que hoje conhecemos  por forma-pensamento.

Em 1942, há 70 anos, a FEB lançou o livro Paulo e Estêvão, de Emmanuel e psicografado por Francisco Cândido Xavier, data que está sendo comemorada por todo o movimento espírita. È difícil apontar quais os melhores momentos da magnifica obra, porque são muitos. O que importa, contudo, é conhecê-la, é mergulhar no universo da época desses dois vultos memoráveis, e não deixar de ler e reler a “prece dos aflitos e agonizantes”, que Abigail profere nos últimos instantes de vida de seu irmão Jeziel/Estêvão. Ao tempo que é imprescindível também observar a notável e luminosa mediunidade  de Chico Xavier, que com fidelidade capta o pensamento que verte do plano superior e sob o influxo mental de Emmanuel grafa a inesquecível saga de dois baluartes do Cristianismo nascente.

A Emmanuel e a Chico Xavier, o preito da nossa gratidão e do nosso amor

 

 

 

 

 Francisco Cândido Xavier, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, MG,

ladeado por Divaldo Pereira Franco e Suely Caldas Schubert

 

 

 

 

Wahib Salha (Sydney, Austrália)

 

Mensagem para nosso Chico

 

Ao Chico só posso agradecê-lo pela coragem e disciplina que teve ao longo de sua vida,  enfrentando todos os tipos de ameaças e criticas por estar apenas espalhando o amor entre os homens.
E foi graças a  esse amor de verdade que, hoje,  desfrutamos de uma doutrina que nos propicia mais convicção e mais sentido em nossas vidas, uma doutrina que nos trouxe o esclarecimento para as nossas duvidas e nos tornou melhores homens nesse lugar que Deus nos deu de presente para vivermos. Aqui,  onde muitos enxergam um inferno,  Chico nos ensinou a dele fazermos um paraíso,  uma sala de aula para nossa evolução espiritual e moral. Obrigado Chico por sempre acreditar no espiritismo e por ter sido o exemplo citado no Evangelho de "O homem bom". Que o nosso infinito Criador possa sempre derramar bênçãos de paz e luz sobre vosso espírito.

Exposição da casa onde Chico Xavier residia em Uberaba, MG, transformada em museu.

Foto de Luiz Carlos de Souza, Uberaba, MG

 

 

 

Washington L. Nogueira Fernandes (São Paulo, Brasil)

 

Chico Xavier – Um Marco na História da Mediunidade

 

Neste ano de 2010 é comemorado o centenário de nascimento do médium mineiro Francisco Cândido Xavier (02/04/1910-30/02/2002), o Chico Xavier. É certo que na História da Humanidade sempre ocorreram fenômenos mediúnicos em todo o mundo, com diferentes indivíduos mas geralmente somente fenômenos de efeitos físicos. Com o advento do Espiritismo em 1857, principalmente na Europa e com destaque para França, começou o período da psicografia, quando mensagens e livros mediúnicos começaram a ser publicados sob a inspiração dos Espíritos. Foi o início da Era do Espírito Imortal pois os seres da outra dimensão passaram a comunicar-se ostensivamente e por escrito aos encarnados. Inobstante algumas obras mediúnicas terem sido publicadas antes do Chico ele representou um marco divisor na história da Literatura paranormal por vários motivos: nunca um médium tinha psicografado um número tão expressivo de Espíritos conhecidos (muitas centenas deles); pela primeira vez na História na literatura mediúnica houve comparação do estilo literário de livros mediúnicos com obras dos autores quando encarnados, revelando semelhanças e coincidências gramaticais indiscutíveis, reconhecidas até por Acadêmicos de Letras; jamais qualquer médium tinha psicografado tantos livros (centenas deles), em mui diferentes estilos literários (romances, prosa, poesia, científicos etc); pela primeira vez na trajetória da Doutrina Espírita um médium atuou comprometido com o Evangelho de Jesus, fazendo de sua vida um marco da mediunidade exercida de modo tão cristão (dando de graça o que de graça recebeu); nunca dantes um médium tinha se dedicado totalmente a distribuir consolação aos que conheceram a morte de seres queridos, através de mensagens mediúnicas atestando indiscutivelmente a imortalidade da alma. Chico Xavier inaugurou uma Era Nova de intercâmbio entre os dois planos da vida. Ele fez escola e a partir dele surgiram muitos médiuns psicógrafos também comprometidos com o Evangelho e em 2010 eles se contam às centenas, considerando os que chegam a publicar livros; e chegam a milhares, se incluirmos os que não chegam a publicá-los. Médium extraordinário, com faculdades mediúnicas muitíssimo aguçadas, ele manifestou-as em muitas áreas, mas na escrita é a que foi mais preponderante. Enfim, ele foi um autêntico continuador da obra de Allan Kardec e dificilmente se encontrará um atual trabalhador espírita comprometido com o Espiritismo-cristão que não tenha um dia apertado as abençoadas mãos deste Missionário do Amor. Fica esta homenagem de reconhecimento à sua vida de dedicação ao próximo e ao Espiritismo-cristão...

 

Praça Chico Xavier com seu busto. Pedro Leopoldo, MG. Foto Ismael Gobbo

 

 

 

Wellington Balbo (Bauru, SP)

 

O Lenço De Deus


Um dos termômetros de aferição dos valores de uma sociedade é a gratidão que ela demonstra pelas pessoas que deram marcante contribuição ao seu progresso. Quanto maior a gratidão e a lembrança dos homens e mulheres que deixaram marcas indeléveis nos mais diversos campos do conhecimento humano, mais fadada ao 
sucesso será essa sociedade. Figuras como Irmã Dulce, Josué de Castro, Carlos Chagas e tantos outros arquitetos da evolução social devem ser constantemente lembrados, ou, melhor dizendo, estudados. E interessante os desdobramentos dessa gratidão, porque assim será constituída uma sociedade que não despreza os seus construtores, sejam famosos ou anônimos, intelectuais ou criaturas simples, no entanto de singular coração. 

E dentro desse rol de figuras humanas admiráveis e abnegadas servidoras de nosso país está, sem dúvida, Francisco Candido Xavier, o notável Chico Xavier, considerado o mineiro do século. 

Se estivesse encarnado, Chico completaria em 02 de abril deste ano 100 primaveras de existência física. 

Mineiro de nascimento Chico Xavier tornou-se cidadão do mundo porque foi adotado pelas milhares de pessoas beneficiadas por seus exemplos de desprendimento e amor. 
Seu nome possuía uma credibilidade fantástica conquistada, diga-se de passagem, pelas suas atitudes autenticamente cristãs, por isso extrapolou as barreiras da religião e ganhou admiradores dos profitentes dos mais diversos credos. 

No entanto, para divulgar a vida do mineiro do século é preciso andar com muito cuidado para não limitar a obra de Chico Xavier. Imperioso admitir a impossibilidade de retratar sua história riquíssima em singelo 
texto. Obras e obras foram escritas e filmes produzidos sobre sua jornada no mundo e, indubitavelmente, nenhuma delas conseguiu esgotar o assunto Chico Xavier, tamanha a magnitude de suas lições. 

E diante da multiplicidade de adjetivos e mensagens deixadas pelo médium mineiro vale a pena destacar o Chico cidadão e o cristão. Apenas duas facetas das inúmeras que possui esse homem notável. 

O Chico cidadão foi aquele que ao longo da existência demonstrou a importância de acreditar no Brasil e não perder a fé no ser humano. O Chico cidadão visitou presídios, famílias em dificuldade 
financeira, multiplicou o Bem, restitui esperança e distribuiu o progresso material e espiritual. 

O Chico cristão soube respeitar as diferenças, amar os críticos e seguir fielmente as lições evangélicas no que concerne ao “Daí de graça o que de graça recebestes”. 

Psicografou mais de 400 livros e doou todos os direitos autorais. Poderia ser milionário, mas eticamente não se apoderou de um patrimônio, o qual, segundo ele mesmo, era obra dos espíritos. Chico, ah, o fiel e consciente intermediário das inteligências invisíveis foi, também, o lenço de Deus a enxugar as grossas lágrimas de familiares e mães desesperadas pela partida de seus afetos. Dessas mensagens de alento aos desvairados corações surgiram livros que refletem com fidelidade a continuação da vida. São inúmeros, mas destacamos: Somos Seis e Estamos Vivos. Apenas uma pálida lembrança do Chico cristão, do ser humano que viveu intensamente o Evangelho. 

Nesses 100 anos de luz seu legado acaricia não apenas o Brasil, mas o mundo todo, mostrando a possibilidade e importância de reviver a chama do amor ensinada por Jesus há dois mil anos. Relembrar Chico não é importante, mas, sim, fundamental 
para que sua memória e seus exemplos de cidadania contagiem a todos.

 

Exposição na Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, MG.

Nesta casa Chico residiu até o ano de 1959. Foto Ismael Gobbo

 

 

 

Wilson Garcia (Recife, PE)

 

A ponte que liga Paris a Pedro Leopoldo

 

A lua segue em seu périplo noturno. Quando surgiu, tímida, o dia escurecia, mas agora já vai alta a noite e ela, a rainha das marés, brilha no espaço. O inquilino do prédio número 8 da Rue des Martyrs, em Paris, está debruçado sobre os papéis que se acumulam em sua mesa. De sua pena depende um outro modo de ver, o novo olhar do universo.

A quase nove mil quilômetros dali, um jovem ensaia os primeiros passos no mistério do além. São rabiscos, linhas tortas, mensagens cifradas. Ele ainda não sabe que está ligado por um fio luminoso ao inquilino parisiense, de modo que a mensagem que principia a receber será compreensível apenas quando a obra daquele se soltar.

A espera é doce e logo ele entra em sono profundo.

Na Rue de Martyrs, por trás da cortina da janela a luz dançarina mantém seu bailado, enquanto o inquilino silencioso enfrenta os seus fantasmas. Quando o dia clarear, ele poderá descansar e, então, aquele jovem, lá do outro lado do oceano, será convidado ao trabalho.

 

É dia de sol, mas há nuvens no ar

 

Dez anos depois de sua partida e mais de um século de sua chegada, Chico Xavier começa a ficar mais visível. Paradoxo? Não, pois quanto mais próximo o ser, mais complexa a sua realidade e o seu fazer. Tem razão o filósofo que disse: “a familiaridade cega”.

Quando aqui, Chico despertou paixões, inveja, admiração, despeito e muita surpresa. Foi descoberto, confundido, amado e, por que não, idolatrado.

Quem vive tanto tempo constrói muitas histórias. Sendo médium, histórias mil. Vejamos algumas.

Dirigente de um centro espírita da zona Oeste da capital paulista, com visível satisfação, ligou-me. Acabava de receber a notícia do lançamento do meu livro “Chico, você é Kardec?” e desejava imediatamente pré-agendar uma palestra em sua instituição sobre o assunto. Queria ser o primeiro.

Ao encerrar a conversa, em que mais falou do que ouviu, repetiu, sorridente, como se conversasse consigo mesmo:

– Chico, você é Kardec? Claro que sim. – E desligou o telefone.

Dias depois, decepcionado com a conclusão do livro, mandou dizer que estava sem data para a palestra...

Chico Xavier tem admiradores, adoradores e contestadores, três tipos bem definidos de pessoas de seu relacionamento. Na intimidade, sagaz, dizia, como resposta a certas indagações, que preferia ter seus inimigos ao alcance de suas vistas, pois podia ver o que estavam fazendo.

Entre os admiradores, Herculano Pires talvez seja o protótipo a destacar. Nutria ele por Chico Xavier um respeito incondicional ao mesmo tempo em que compreendia a condição humana do médium, o suficiente para transitar entre o sagrado e o profano com extraordinária leveza de pensamento. Dispensável dizer que Chico o admirava, também, distinguindo-o com particular atenção.

Os contestadores cumprem a delicada função de opositores, atuando, portanto, como fator de equilíbrio do processo, apesar dos malabarismos filosóficos e factuais, muitas vezes, por eles empregados para atingir os seus propósitos, numa luta não raro inglória.

E os adoradores? Esses merecem reflexão especial.

Ao desvendar a mediunidade, o Espiritismo teve a felicidade de devolvê-la à sua condição natural, da qual se afastara. Sem profaná-la, penetrou no seu lado sagrado, misterioso e revelou os mecanismos da relação do homem com o invisível.

Kardec atribui à mediunidade dois valores distintos ao concluir que todos os homens são médiuns na medida da sua relação cotidiana com os espíritos, mas apenas alguns possuem a mediunidade na sua forma ostensiva, caracterizada por fenômenos visíveis.

Chico Xavier, portanto, se inclui entre esses últimos.

A consciência do processo e do tipo de relação que ocorre entre o mundo visível e o invisível é um dos modos de compreensão da própria natureza e das leis que a regem. Homens, espíritos e os elementos dos diferentes reinos compõem uma só e única realidade, a mostrar-se de forma diversificada e una ao mesmo tempo.

Entretanto, a mediunidade carece ainda de melhor apreensão para tornar-se um instrumento prático da própria evolução, especialmente quando se está diante de sua manifestação e de seus efeitos.

Talvez resida aí um dos pontos capitais da distorção que se verifica na relação dos adoradores com o objeto de sua adoração – os médiuns: a dificuldade de aplicar racionalmente os princípios que operam os fenômenos, necessários para atribuir a cada parte do processo o seu justo valor.

O exemplo do admirador de Chico Xavier, Herculano Pires, se aplica bem ao caso e fica melhor entendido se comparado ao de R. A. Ranieri. Enquanto Herculano o vê como homem a atuar extraordinariamente na mediação dos dois planos da vida, Ranieri, como típico adorador, o vê como o “santo dos nossos dias”.

Admirador e adorador guardam entre si notáveis diferenças. Herculano distingue o homem, falível, submetido às mesmas provações de qualquer outro indivíduo, do médium, este dotado de faculdades que exigem atenção e zelo constante. Para  Ranieri, o homem submerge e desaparece na figura do médium, este predominando e pairando acima de qualquer ameaça.

Para Herculano, constituiu-se obrigação analisar cada obra do médium com acuidade, a fim de compreender o pensamento cuja origem não está nele, médium, mas em outra mente. Ranieri não considera a possibilidade de divergências de autoria, uma vez que o médium é tão autor quanto o espírito, sendo que ambos são igualmente  santos.

O autor de “O Espírito e o Tempo” não se cala diante da contradição localizada em certos momentos da obra recebida pelo médium; aponta-a como um conflito a ser resolvido, sem que tal fato constitua para ele motivo de redução ou perda da admiração pelo médium.

Já o autor “Materializações Luminosas” parece aceitar com tranquilidade a totalidade da obra do médium, segundo certa noção que se aproxima da infalibilidade no exercício da mediunidade. O santo, como tal, não erra e nem está sujeito a espíritos de hierarquia mais baixa.

 

Conflitos de inverno

 

Um choque inevitável se estabelece nessa relação. Que os contestadores confrontem os admiradores e adoradores e utilize-os como argumento a seu favor é compreensível. Que estes dois se unam contra aqueles, também. Estranho é ver admiradores e adoradores em campos opostos quando a racionalidade entra em cena. Estranho, mas nem tanto.

Os admiradores costumam utilizar mais a razão e menos a emoção em suas relações com o objeto de admiração, enquanto os adoradores fazem exatamente o contrário.

Fato: Chico Xavier oferece material inigualável para manifestação da emoção quanto da razão, seja o material mediador implícito na literatura assinada pelo invisível, seja aquele que resulta de sua vida pessoal.

O médium é singular e como tal de uma profusão impressionante; mas o homem iguala-se ao médium na medida em que se mantém equilibrado durante as mais de nove décadas de existência no corpo material. Isso impressiona e emociona, indiscutivelmente, a todos aqueles que de uma maneira ou de outra se veem tocados pela materialidade da obra.

A diferença a observar é aquela que resulta dos diversos olhares que incidem sobre Chico Xavier e que permitem a tipificação dos indivíduos. Por exemplo, o autor de “O Ser e a serenidade” observa o médium com a atenção devida, muitas vezes à distância e circunstancialmente na proximidade que as relações íntimas proporcionam. Herculano Pires é amigo de chegar e encontrar a porta aberta.

A filosofia que brota de suas reflexões são as mesmas que presidirão o seu olhar. Por mais que a emoção tenda a se derramar para além do leito por onde corre, a razão encontra meios e formas de manter o controle, a fim de que o olhar não se deixe contaminar a ponto de perder-se no labirinto espesso da paixão.

Por isso, vemos Herculano Pires convicto da obra de Chico Xavier, podendo, como poucos, posicionar o médium entre os portadores de uma importante missão, ao mesmo tempo em que navega pelo mar caudaloso da dúvida, sem nenhum constrangimento e sem nenhum temor por isso.

Somente assim pode ele perceber a unidade do ser identificado no filho das alterosas, a manifestar-se na diversidade de suas ações. A razão herculanista logra êxito na difícil tarefa de dividir aquele ser misterioso entre o homem e o médium, apenas para alcançar a consciência necessária, uma vez que compreende que o homem e o médium se fundem na unidade do ser em suas manifestações.

A racionalidade de que se nutrem os adoradores é de outra ordem. A emoção é sua ordenadora. O homem Chico é o médium dos espíritos, doce, afável, sempre pronto a atender o chamado do além, e por esta disposição tão rara, aparece aos olhos destes como alguém que melhor reencarna a personalidade do codificador.

Ao torná-lo Kardec, tornam-no, também, digno do rótulo de santo, pois em Chico qualquer rudeza ou virilidade kardequiana aparece abafada, quando não transmutada na sublimidade dos espíritos angélicos.

Por isso, parece-lhes natural que Chico seja Kardec melhorado e não apenas continuado, pois o médium mineiro cumpre a missão que antecipou quando ainda nas vestes do codificador, mas também se mostra adiantado em relação àquele. Chico é coração, sentimento, amor, e Kardec acima de tudo é razão.

A missão tende a ser vista como o ponto máximo da codificação, o seu ápice. A obra se fecha em torno do sentimento na sua forma mais elevada, embora presa, inevitavelmente, às condições que a cultura permite, conformadora que é do olhar humano em sua transitoriedade reencarnatória.

Chico, portanto, aos olhos conformados dos seus adoradores, oferece-se à humanidade como o modelo mais bem acabado do ser dos tempos modernos, justamente por reunir a razão de Kardec e o coração da nova experiência missionária. A fusão de ambos gera o protótipo incorruptível.

O embate que surge dos dois olhares distintos é inevitável. Os admiradores racionalistas são demasiadamente frios em seu modo de olhar e têm uma espécie de venda num dos olhos, a embotar-lhes a capacidade de compreender toda a grandeza do médium. Assim pensam os adoradores.

Estes, por sua vez, são tidos pelos admiradores como os filhos da emoção sem controle e, por isso mesmo, dotados de uma lógica que não considera a razão tão importante, porque o mistério do ser está acima de explicações matemáticas. E, aqui, uma afirmação dos adoradores surge categórica: “Eu sei que Chico é Kardec e ninguém vai tirar isso de mim”.

Mesmo que Chico brade não ser o antigo sacerdote druida, mesmo que tenda a assumir uma personalidade com experiências reencarnatórias em corpos femininos e ainda que se considere em posição inferior na escala em que Kardec é reverenciado, não receberá crédito entre os seus adoradores. Estes o terão na conta do homem humilde e despretensioso neste instante, para mais fortemente o adorarem, pois somente os grandes espíritos são capazes de tal desprendimento.

O inquilino da Rue des Martyrs, 8, há muito despertou alhures de seu justo descanso e o mineiro de Pedro Leopoldo já embarcou no aerobus com destino à Paris sideral. Resta-nos, apenas, aqui de nossa frágil estação terrestre imaginar o inusitado encontro.

 

Francisco Cândido Xavier

 

 

 

Yeda Hungria (Niterói, RJ)

 

Meu Encontro com Chico Xavier

 

Em 1974, a pedido do saudoso presidente da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Floriano Moinho Peres, coordenamos a vinda do querido Chico a Niterói, para ser agraciado com a concessão do título de Cidadão Fluminense. Pálido tributo de nossa iniciativa.

Após contatos telefônicos, Chico nos convidou a Uberaba para estabelecermos as providências. Seria nosso primeiro contato pessoal e a emoção era indescritível.

Ao chegarmos a sua residência, eu e meu marido Fernando, éramos aguardados ao portão. Encaminhados a uma salinha muito simples, repleta de livros de sua psicografia, logo surgiu o Chico, com o habitual sorriso amável e acolhedor, a estender-nos as mãos abençoadas. De imediato, o pequeno recinto foi inundado por suave perfume. Só muito tempo depois, soube tratar-se de fenômeno produzido pelo espírito Scheilla.

Mais tarde, Chico nos conduziu à cozinha e, após o lanche, concluímos os preparativos para o evento. Mostrara-se bastante experiente em solenidades dessa natureza.

 Inenarrável o enlevo que sentíamos, parecia vivermos um sonho, do qual jamais desejaríamos despertar.

Ainda desfrutamos de sua companhia por poucos dias, conhecendo sua extraordinária obra, enquanto nos cumulava de gentilezas, qualidades de sua alma generosa, eminentemente cristã.

A partir daquele encontro, passamos a visitá-lo frequentemente, sempre recepcionados com almoços em sua residência, ofertas de livros e presentinhos para a família.

Em 1976, a nosso convite, Chico retornou a Niterói para uma inesquecível tarde de autógrafos, em meio à multidão que o buscava exultante.

Assim, nasceu uma amizade que perdurou até a sua desencarnação em 2002, mas prossegue com o intercâmbio de visitações ao seu filho Eurípedes.

Em abril de 2010, nas comemorações do seu centenário de nascimento, tivemos a alegria de homenageá-lo com a instalação do Núcleo Espírita Chico Xavier, em Niterói, feliz oportunidade de prosseguir difundindo e vivenciando as lições do Mestre Jesus, que o nosso patrono tão bem soube honrar como autêntico e devotado Apóstolo do Cristo.

Esta, a nossa singela homenagem-gratidão ao gigante benfeitor da humanidade.

Yeda Hungria e Chico Xavier em Uberaba, MG., no ano de 1974. 

Foto do acervo particular de Yeda Hungria, Niterói, RJ

 

 

 

 

Ouça a música preferida de Chico Xavier

 

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http://www.youtube.com/watch?v=8C8z1wUn9A4

 

 

 

 

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Editoração e envio:

Ismael Gobbo, Araçatuba, SP

Gislaine Pascoal Yokomizo e Leonardo Yokomizo, Jacareí, SP